Saiu uma matéria interessante no New York Times no mês passado, que fala sobre os traders de alta frequência. Quem aí chegou a ver o post que eu fiz sobre Jim Simons, um megainvestidor que trabalha com uma equipe multidiscilinar, que desenvolveu um algorítimo que estuda o mercado e faz milhares de operações automaticamente, trazendo lucros altíssimos para o mesmo?
A questão é que, cada vez mais, investidores vem descobrindo esta forma de investir. Entretanto, operar dessa forma é para poucos. Sendo assim, somente grandes investidores ou instituições podem fazê-lo. Já temos alguns casos no Brasil, mas ainda não é maioria. Como não há regulamentação, as pessoas ficam com medo de pequenos investidores serem lesionados. Acredita-se que operações sendo feitas desta forma, através do uso de ferramentas não humanas, possa manipular o mercado.
Eu, particularmente, ainda não tenho opinião formada. Ao mesmo tempo que fico encantado com a genialidade dos programas, também me preocupo com quem usa o mercado como forma de aposentadoria para o futuro. Até que ponto esses traders de alta frequência influenciam o mercado?
Leiam a matéria abaixo e tirem suas prórpias conclusões. Mas lembrem-se: sejam críticos.
Investidores descobrem operações de alta frequência
Por Charles Duhigg
A grande novidade em Wall Street é uma maneira que alguns operadores encontraram de manejar o mercado de ações, espiar ordens de compra e venda dos investidores e, segundo críticos, até mesmo manipular sutilmente o preço dos títulos. Ela é chamada de operação de alta frequência - e é subitamente uma das forças mais faladas e misteriosas dos mercados.
Computadores poderosos, alguns bem ao lado das máquinas que dirigem mercados como a Bolsa de Valores de Nova York, permitem que operadores de alta frequência transmitam milhões de ordens à velocidade da luz e, segundo seus detratores, ceifar bilhões à custa de todo mundo restante.
Esses sistemas são tão rápidos que podem passar a perna em e deixar para trás tanto investidores humanos quanto computadores. Após se desenvolverem nas sombras por anos, eles finalmente estão dando muito o que falar.
Quase todos em Wall Street se perguntam como fundos hedge e grandes bancos como Goldman Sachs estão ganhando tanto dinheiro logo após o quase colapso do sistema financeiro. A operação de alta frequência é uma das respostas.
E, neste mês, quando um ex-programador da Goldman Sachs foi acusado de roubar códigos secretos de computador (um programa que, segundo um promotor federal, poderia "manipular os mercados de forma injusta"), o mistério apenas se aprofundou. A Goldman reconhece que lucra com a negociação de alta frequência, mas nega que possui vantagem injusta.
No entanto, especialistas em alta frequência claramente têm alguma vantagem sobre os traders típicos, sem falar nos investidores comuns. A SEC, a comissão de valores mobiliários americana, afirma que está examinando certos aspectos da estratégia.
"É daí que está vindo todo o dinheiro", disse William H. Donaldson, antigo presidente do conselho e chefe-executivo da Bolsa de Valores de Nova York e hoje consultor de um grande fundo hedge. "Se um investidor individual não tem os meios de acompanhar esse ritmo, todos eles estão com uma desvantagem enorme."
Na maior parte da história de Wall Street, a negociação de títulos foi bem simples: compradores e vendedores se reuniam nos espaços de negociação e barganhavam até chegarem a um acordo. Então, em 1998, a SEC autorizou que transações eletrônicas competissem com mercados como a Bolsa de Valores de Nova York. A intenção era abrir o mercado para qualquer um com uma ideia na cabeça e um computador na mesa.
Mas com o surgimento de novos mercados, os computadores pessoais não têm conseguido competir com os existentes em Wall Street. Poderosos algoritmos - "algos", no jargão do setor - executam milhões de ordens por segundo e podem varrer dezenas de mercados públicos e privados simultaneamente. Eles podem detectar tendências antes de investidores piscarem, mudando suas ordens e estratégias em milissegundos.
Negociadores de alta frequência muitas vezes confundem outros investidores ao emitir e cancelar ordens quase simultaneamente. Brechas nas regras de mercado dão aos investidores de alta velocidade uma visão preliminar de como os outros estão negociando. E seus computadores podem essencialmente forçar investidores mais lentos a desistir de lucros - e então desaparecer antes de qualquer um saber que estiveram por ali.
Operadores de alta frequência também se beneficiam da competição entre várias permutas, que pagam valores pequenos frequentemente captados pelos operadores maiores e mais ativos - normalmente um quarto de centavo de dólar por título para quem chegar primeiro. Esses pequenos pagamentos, dispersos em milhões de títulos, ajudam os investidores de alta velocidade a lucrar através da simples negociação de um número enorme de papéis, mesmo comprando ou vendendo a uma perda modesta.
"Isso virou uma corrida armamentista tecnológica e o que separa vencedores de perdedores é a rapidez com que conseguem se mover", disse Joseph M. Mecane, da NYSE Euronext, que opera na Bolsa de Valores de Nova York. "Mercados precisam de liquidez e operadores de alta frequência fornecem oportunidades para outros investidores comprarem e venderem."
O aumento das operações de alta frequência ajuda a explicar por que a atividade nas bolsas americanas disparou. O volume médio diário de operações subiu 164% desde 2005, de acordo com dados da Bolsa de Nova York. Embora os números precisos sejam enganosos, as bolsas afirmam que agora poucos operadores de alta frequência correspondem a mais da metade de todas as operações.
Para entender esse mundo de alta velocidade, considere o que aconteceu quando operadores de baixa velocidade enfrentaram os robôs de alta frequência no início deste mês e acabaram entregando os espólios aos computadores da velocidade da luz.
Era 15 de julho e a Intel, a gigante dos chips de computador, havia anunciado ganhos robustos na noite anterior. Alguns investidores, detectando uma oportunidade, começaram a comprar títulos da empresa de semicondutores Broadcom. (Suas atividades foram descritas por um investidor de uma grande firma de Wall Street que falou sob condição de anonimato para proteger seu emprego.)
Os operadores lentos se depararam com um dilema: se comprassem um grande número de títulos de uma vez, revelariam sua estratégia e arriscariam elevar o preço da Broadcom.
Então, como é comum em Wall Street, eles dividiram suas ordens em dezenas de pequenos lotes, esperando cobrir seu rastro. Um segundo após a abertura dos mercados, as ações da Broadcom estavam sendo negociadas a US$ 26,20.
Os operadores lentos começaram a emitir ordens de compra. Mas ao invés de elas aparecerem para todos os vendedores potenciais ao mesmo tempo, algumas dessas ordens foram provavelmente direcionadas a alguns operadores de alta frequência em apenas 30 milissegundos - 0,03 segundo -, a "ordem relâmpago". Apesar da intenção dos mercados de garantir transparência apresentando ordens a todos simultaneamente, uma brecha nas regulações permite que bolsas como Nasdaq mostrem a operadores algumas ordens antes de todo mundo, a um custo.
Em menos de meio segundo, operadores de alta frequência descobriram uma informação valiosa: o apetite pela Broadcom estava aumentando. Seus computadores começaram a comprar os papéis da companhia e então revendê-los aos investidores mais lentos a preços maiores. O preço total da Broadcom começou a subir.
Logo, milhares de ordens começaram a inundar os mercados enquanto programas de alta frequência funcionavam a todo vapor. Autômatos começaram a emitir e cancelar ordens minúsculas em milissegundos para determinar quanto os operadores mais lentos estavam dispostos a pagar. Os computadores de alta frequência rapidamente determinaram que o limite máximo de alguns investidores era de US$ 26,40. O preço disparou para US$ 26,39 e programas de alta frequência começaram a oferta de venda de centenas de milhares de ações.
O resultado: investidores lentos pagaram US$ 1,4 milhão por cerca de 56 mil papéis, ou US$ 7,8 mil a mais do que se pudessem agir tão rápido quanto os operadores de alta frequência.
Multiplique essas operações por milhares de papéis por dia e os lucros serão substanciais. Operadores de alta frequência ganharam cerca de US$ 21 bilhões no ano passado, estima a firma de pesquisa Tabb Group.
"Você quer encorajar a inovação, você quer recompensar as companhias que investiram em tecnologia e ideias que tornam os mercados mais eficientes", disse Andrew M. Brooks, chefe de compra e venda de ações americanas do T. Rowe Price, fundo mútuo e companhia de investimento que costuma competir e usar técnicas de alta frequência.
"Mas estamos indo em direção a um mercado de duas camadas, com o pessoal da arbitragem de alta frequência e todo o resto. As pessoas querem saber que têm uma chance legítima de conseguir um acordo justo. Caso contrário, os mercados perdem sua integridade."
Tradução: Amy Traduções
The New York Times
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