segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Estevam de Assis: dono da rede Bretas


Um pouquinho da história de Estevam de Assis, dono da rede Bretas. Um homem frugal, que não deixou a grandiosidade de seu negócio "contaminar" os seus costumes e crenças.

Realmente admirável.

Fonte: Estadão

Estevam de Assis doa quase tudo o que ganha e está por trás de uma das redes de varejo mais assediadas do País

Com uma pastinha debaixo do braço, brinde da última feira em que participou nos Estados Unidos, Estevam de Assis, 53 anos, deixa seu apartamento de três quartos, alugado, onde vive com a mulher. Veste uma calça e uma camisa surradas, uma das trinta peças que tem em seu armário. Não tem televisão nem computador em casa. Da garagem apertada, tira seu carro 1.0. A rotina de Estevam passaria despercebida não fosse um detalhe: ele é o empresário por trás de uma das redes de varejo mais assediadas do Brasil.

Com 59 lojas e 12 postos de gasolina em Minas Gerais, Goiás e Bahia, o Bretas faturou R$ 2,1 bilhões no ano passado e é a maior cadeia de supermercados de capital 100% nacional. "Eu já aprofundei mais de 20 negociações de venda. O único sócio que eu quero é o BNDES", diz Estevam Assis, presidente e um dos acionistas do Bretas, em uma de suas raras entrevistas.

O Bretas cresce muito acima da média do setor. Nos últimos seis anos, dobrou de tamanho duas vezes. Segundo cálculos do mercado, já vale mais de R$ 1 bilhão. É ou foi alvo de interesse de grandes redes, como Pão de Açúcar e Walmart, de fundos de pensão e de participação. Os últimos rumores dão conta de uma negociação para venda de um terço da rede, por R$ 500 milhões, para o fundo Tarpon, que também é acionista relevante da grife de calçados Arezzo e da incorporadora Direcional.

Assis confirma as conversas, mas diz ter receio de vender para estrangeiros. Criado em 2006 por brasileiros, o fundo da Tarpon que compra participação em empresas é voltado para investidores estrangeiros. O fundo não comenta os rumores do mercado. "Talvez a melhor solução hoje seja vender 20% das ações para eles (Tarpon) lançarem na Bolsa. O que me traumatiza hoje é dinheiro estrangeiro", diz Assis. "Mas eu te confesso que nunca estive tão desanimado para negociar."

Num setor em profunda consolidação, o Bretas virou o alvo da vez. Em tamanho, só perde para Pão de Açúcar, Carrefour, Walmart e GBarbosa, que desde 2007 pertence à chilena Cencosud. Além de ser uma rede lucrativa e reconhecida pela eficiência de sua operação, o Bretas virou sinônimo de supermercado em cidades médias de Minas Gerais e Goiás.

Em pouco mais de duas décadas, saiu de um pequeno armazém no interior mineiro - onde se matava até porco - para se tornar uma rede de 59 lojas. Neste ano pretende abrir outras 12. Como reinveste praticamente tudo o que sobra no caixa, financiou boa parte do seu crescimento com capital próprio. Mais: está estruturado para crescer. Seu centro de distribuição de Minas Gerais - um moderno galpão construído há dois anos com ajuda de ex-executivos de logística do Wal-Mart - está preparado para atender até 300 lojas, cinco vezes mais do que o tamanho atual do grupo.

"O Estevam é um empresário extraordinário. Ele tem uma enorme capacidade de vender projetos, de agregar gente às ideias dele. O que mais me chama atenção é a velocidade com que tira ideias do papel", diz Altevir Magalhães, dono da rede de supermercados Modelo, de Cuiabá (MT). "Ele é querido, mas é duro nos negócios. Tem muita clareza na hora de negociar, sabe apertar o fornecedor. É muito habilidoso nisso." Para Helder Mendonça, fundador da marca de pão de queijo Forno de Minas, Assis é o típico mineiro astuto. "Quem começa uma negociação com ele, acha que Estevam é bobo, que vai levar a melhor. No fim, sai sem saber como perdeu."

Criado nos anos 50 em Santa Maria de Itabira, cidade mineira com 6 mil habitantes, o Bretas era um armazém com sete funcionários e 170 metros quadrados quando Assis e o irmão Ildeu assumiram o negócio do pai. Naquela época com 29 anos, ele tinha acabado de voltar de Rondônia, onde trabalhou por dois anos como engenheiro de obras da Odebrecht. Antes, vivera uma experiência missionária, morando dois meses com índios numa tribo amazônica. "Meu pai queria fechar a loja depois de três anos seguidos de prejuízo. Ele disse que eu podia até quebrar, desde que nunca tivesse briga entre os irmãos", lembra. "No começo, nossa estratégia de crescimento era de urubu: comprávamos lojas que estavam fechando, quase de graça. Só em 1994, oito anos depois que assumimos, é que abrimos a primeira loja nova."

O Bretas, com seus hipermercados compactos (entre 3 mil e 4,5 mil metros quadrados e 30 checkouts), ficou grande demais para a pequena Santa Maria de Itabira. Na cidade natal, restou apenas o centro de treinamento da companhia, que hoje emprega mais de 11 mil funcionários. É ali, num hotel fazenda, que Assis frequentemente dá sua palestra sobre a importância do amor nas empresas. Ele também viaja pelo País para falar sobre o tema. No ano passado, diz ter dado mais de 100 palestras. "A gente tem de ser duro com os problemas e suave com as pessoas. Muitas vezes elas erram porque estão no lugar errado, não foram treinadas ou motivadas o suficiente", diz.

Os outros dez irmãos viraram sócios quando o Bretas abriu a terceira loja. Seguindo um conselho do sogro, Assis e o irmão dividiram o negócio em 12 partes iguais. "Foi a melhor coisa que fizemos. Se não fossem meus irmãos, o Bretas não teria chegado onde está", diz. "No conselho, todos têm voto igual."

A família Bretas parece fazer parte de uma mesma congregação. O símbolo que os une é uma aliança preta no dedo anular esquerdo, sinal de compromisso com a simplicidade. "Isso é ideia da minha avó", explica Marcela Bretas, sobrinha de Assis e funcionária da rede. Para trabalhar na empresa, os herdeiros precisam atingir algumas metas: ter curso superior, pós-graduação, morar no exterior por um ano para aprender inglês, passar no curso e se formar como gerente, ser honesto e de bom relacionamento. Marcela foi a primeira a cumprir o regulamento.

O jeito simples da família contaminou o negócio. Por causa disso, o Bretas é um supermercado de custo operacional baixo. Os executivos não são bem pagos. Eles não têm carro nem secretária. Por alguns anos, o salário do presidente foi de cinco mínimos. A sede da rede fica num prédio construído com blocos de concreto e chão de cimento. O escritório de Assis é o retrato mais fiel dessa cultura espartana. Não tem o menor charme - nem computador e telefone. "O computador está na cabeça dele", diz uma de suas quatro irmãs, conhecida pelo apelido de Tuquinha. Sob a mesa de metal, nenhum objeto. Papéis, só na primeira gaveta. "São documentos e desenhos de lotes que eu quero comprar. Sou um comprador compulsivo de lotes", diz Assis.

Os lotes são a única manifestação de consumismo do empresário - se é que se pode dizer assim, já que a finalidade deles é garantir a expansão de lojas. Assis e a mulher fizeram voto de simplificação total de vida. Só gastam com o que é absolutamente necessário. Ele fica com apenas 5% dos rendimentos e doa o restante. "Não é voto de pobreza, porque não sou pobre", explica o empresário. "Mas eu não posso comprar mais nada. Se ganho uma camisa, tenho de doar outra do armário. Eu descobri essa alegria, essa liberdade de ser feliz precisando de pouca coisa."

Hoje, gasta a maior parte do dinheiro pagando terapia para padres e freiras. No ano passado, construiu uma clínica de psicologia e bancou tratamento para 18 padres italianos. Só na clínica gastou R$ 7 milhões. Neste ano, promete pagar a terapia para 300 congregados de todo o País. Todos os membros da família e diretores da empresa são obrigados a fazer o tratamento, que custa cerca de R$ 2 mil. "Fiz essa terapia há 12 anos e minha vida mudou completamente", conta. "No começo não acreditava. Mas mudou a relação com meu pai, que eu achava que era boa e não era. Passei a comer verdura e a correr 16 quilômetros por dia." Não se trata de uma terapia qualquer, segundo Assis. "É um terapia nova, que mexe com o inconsciente das pessoas. Você volta no útero da sua mãe e vem consertando algumas coisas. Acredito que tudo o que meus antepassados viveram passa pra mim."

O perfil de Assis é paradoxal. É, ao mesmo tempo, um capitalista que toca uma rede de crescimento agressivo e um homem generoso e de hábitos simples. "Quando fiz 50 anos, quis me aposentar e me dedicar à Igreja. Um bispo da comunidade me fez desistir, dizendo que aposentado a Igreja já tinha demais. Mas os empresários eram poucos e podiam ajudar muito", conta. Fica um pouco mais fácil entender a motivação de Assis com uma história que se passou entre ele e um diretor do BNDES. Certa vez, esse executivo perguntou o que Assis faria se o banco lhe desse uma quantia ilimitada de dinheiro. O empresário respondeu que teria 500 lojas no Brasil. O diretor questionou que isso só daria mais trabalho. Assis teria dito: "Deus me deu esse dom, de ser comerciante. E quanto mais lucro eu tenho, mais dízimo eu dou à Igreja. É tudo coerente."


segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Biografia de Abílio Diniz


Ando tão atarefado ultimamente que as atualizações do blog têm ficado em segundo plano. Só pra não deixar os visitantes e colegas que gostam daqui, fica aqui um link com bacana com a biografia de um dos maiores empresário brasileiros: Abílio Diniz.


PARA LER A BIOGRAFIA DE ABÍLIO DINIZ CLIQUE AQUI.


Aproveitem pra dar uma explorada no blog dele, que tem muita coisa bacana.

Um abraço!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Vamos nos apoiar!



Christian Barbosa, autor do blog Mais Tempo, e do livro A tríade do tempo, escreveu um post muito interessante em seu blog, no qual questiona o porquê de nós, brasileiros, não apoiarmos os nossos compatriotas. No meu âmago sempre tive essa sensação e diversas vezes me fiz as seguintes perguntas: “Por que não nos apoiamos? Por que os de fora são considerados ‘melhores’? Por que o preconceito com as nossas próprias criações? Por que a inveja? ”

As respostas para as perguntas acima talvez estejam no cerne da nossa cultura, que tem fortes influências do nosso passado sofrido. Felizmente isto não se justifica mais. Que tal começarmos a olhar para os nossos feitos e talentos com outros olhos a partir de agora?

Leiam o post de Christian Barbosa e aproveitem para refletir.

____________________________________


BRASILEIRO NÃO GOSTA DE BRASILEIRO

"Estou na convenção nacional para os franqueados do Boticário e antes de falar sobre Produtividade, o Ozires Silva fez uma palestra, como sempre fantástica.
No final ele comentou um assunto que me chamou a atenção. Ele disse que quando foi na Academia em Estocolmo-Suécia, com o pessoal responsável pelo Prêmio Nobel, ele questionou porque o Brasil era um dos poucos Países da América Latina a não ter nenhum vencedor do Prêmio Nobel. Os Estados Unidos, por exemplo, tem mais de 350 premiados, até a Argentina tem seu premiado. E por que não o Brasil?

Umas das pessoas da secretaria do premio, respondeu ao Ozires o seguinte: “O Brasil não tem um premiado no Nobel, porque quando um Brasileiro é indicado, é o próprio povo Brasileiro que derruba a sua indicação”.

O próprio Ozires comentou que uma vez perguntaram para ele quem ele indicaria ao Prêmio Nobel, em uma palestra de médicos em SP, ele disse que indicaria o Dr. Adib Jatene, e no mesmo instante veio “ahhh! Que isso! Por que esse cara, etc,etc,etc…”. Ele simplesmente riu e comprovou a teoria que Brasileiro não gosta, ou tem inveja, ou sei lá o que, do próprio povo.
Quando alguém é indicado nos EUA, por exemplo, o pessoal faz campanha, descobrem os grandes feitos para ajudar, criam todo aquele clima. Quando é aqui o povo começa a descobrir os podres para ferrar o coitado! Não é verdade?

Que atire a primeira pedra que nunca criticou o Rubinho na F1, ou nossos jogadores na recente Copa, ou nossos cientistas, etc. Por que somos assim? Só posso concluir que Brasileiro não Gosta de Brasileiro.

Eu mesmo já passei por isso, no começo da Triad, do livro e do software eu ouvi várias vezes, mas é Brasileira a Triad???

Eu quero ver um Brasileiro no Prêmio Nobel, no Oscar, no Gremmy, na ONU e em todo o lugar. Somos um povo único e precisamos agora criar um povo “unificado”.

Viva o Brasil!"


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Quem quer ser prático?


Pasme, mas o prático ao qual se refere o título deste post não tem relação, pelo menos ao meu ver, com praticidade (qualidade do que é prático).

Há algumas semanas atrás, conversando com um amigo meu que é dono de uma empresa que mexe com embarcações, descobri que existe um profissional que ganha tão bem quanto um alto executivo. Este profissional é chamado de prático. Fiquei tão curioso, que resolvi fazer uma pesquisa no Google. Eis que um dos primeiros links apontou pra uma matéria de maço de 2008, no site do Portal Exame.

Já pensou você ganhar R$150.000,00 por mês?

Segundo o meu amigo, algumas vezes o prático não gasta mais do que meia hora em uma operação, e recebe naquele dia mais do que 90% da população deseja receber no fim de um mês.


Leiam a matéria.

Fonte: Portal Exame

"Nos portos brasileiros, há um tipo de profissional que ganha salários dignos de altos executivos fazendo um trabalho que pouca gente conhece. São os práticos. Sua função é assessorar os comandantes na hora de atracar os navios, passando por rádio orientações para evitar que a embarcação esbarre em bancos de areia e outros obstáculos. Segundo informações do mercado, um prático no porto de Santos, o mais movimentado do país, pode ganhar até 150 000 reais por mês. Por que uma remuneração tão alta? Simples -- na prática (e sem trocadilho) há uma reserva de mercado. Ao aportar, todo navio é obrigado por lei a contratar um prático, profissional que é habilitado exclusivamente pela Marinha. "A imposição visa proteger a vida humana no mar e prevenir acidentes ambientais", informa a assessoria de comunicação da Marinha. Há apenas cerca de 400 práticos no país. O serviço é privado, pago à cooperativa de práticos pelas companhias de navegação a cada manobra efetuada. Os usuários reclamam da falta de opções e dos preços altos -- um grande armador estima que a contratação de práticos represente 40% de seus custos portuários. Recentemente, o ministro-chefe da Secretaria Especial de Portos, Pedro Brito, declarou que a posição do governo era pela abertura desse mercado. "Os práticos continuarão com suas cooperativas, mas as companhias que administram os portos também oferecerão o serviço", disse Brito. O Conselho Nacional de Praticagem é contra. "O modelo brasileiro é o mesmo de países conhecidos pela defesa da livre concorrência", diz Carlos Eloy Cardoso Filho, presidente do conselho.

Para se tornar prático, é preciso passar numa seleção promovida pela Marinha e, depois, cumprir um estágio de até dois anos. O carioca Franklin Maia, de 43 anos, um dos 16 práticos que trabalham no porto de Salvador, era oficial da Marinha mercante quando começou a prestar concurso. "Fiz dez exames até passar", diz Maia. "É um trabalho desgastante e perigoso." Uma manobra pode demorar até 6 horas para ser concluída. Maia não diz quanto ganha para fazer o trabalho. Mas estima-se que um prático em Salvador receba 50 000 reais por mês."

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Daniel Topel, fundador da Netmovies - Como uma boa formação ajuda




Já ouviu falar na Netmovies? Não?

Bom, a Netmovies é uma empresa de locação de filmes, mas que tem um modelo de negócios bastante peculiar, que vem ganhando cada vez mais espaço aqui no Brasil. A Netmovies atende nas principais capitais do país e vem crescendo em ritmo aluscinante (vide matéria abaixo).

Entretanto, o que mais me impressionou nessa história toda não foi a história propriamente dita, mas o responsável por ela: Daniel Topel. Com uma formação considerada excelente, Topel vem mostrando que estudo aplicado compensa. Eu, particularmente, sou vidrado nessas coisas. Adoro ver trabalhos acadêmicos virando realidade. Quanto à modelagem matemática - NEM SE FALA - é apaixonante.

Leiam a matéria sobre o Daniel Topel que saiu no Portal Exame. Muito interessante.

_____________________________________

Fonte: Portal Exame

"O matemático persa Beremiz Samir, personagem fictício criado pelo autor brasileiro Malba Tahan, usava números para resolver qualquer tipo de problema. Viajando pelo deserto, ele fazia cálculos para resolver questões nebulosas, como o enigma matemático que propõe a divisão de 35 camelos entre três irmãos. Samir, protagonista do livro O Homem Que Calculava, usava a combinação dos números como aliada. Foi o mesmo truque que Daniel Topel, fundador e presidente da videolocadora online NetMovies, empresa líder do setor no Brasil, aprendeu a usar ao longo dos anos. Formado em física e mestre em engenharia, o paulistano Topel construiu sua carreira misturando a matemática ao mundo dos negócios. Seu primeiro emprego depois de concluir o mestrado na prestigiada Universidade Stanford foi numa empresa de software chamada Applied Decision Analysis (ADA). Foi lá que ele também começou a aliar variáveis numéricas a informações de mercado para simular cenários futuros. Na época, o conceito foi aplicado nos setores farmacêutico, automobilístico e de transportes, entre outros. Mais tarde, ao somar o conhecimento de elaboração de métodos quantitativos a uma veia empreendedora, Topel passou a usar os cálculos a seu favor. "Ele sempre foi um crânio e muito empenhado na solução dos desafios", diz André Levy, seu colega em Stanford e com quem trabalhou na ADA.
Durante quatro anos, o fundador da NetMovies amadureceu ideias e modelos matemáticos para colocar de pé o negócio da videolocadora. O modelo, semelhante ao da americana Netflix, é complexo, formado por complicadas regras que definem a logística de entrega e retirada dos DVDs. Quando percebeu que não conseguiria fazer a entrega dos discos pelo correio, Topel começou a estudar as possibilidades de se associar a transportadoras. Mas, em vez de conseguir descontos, decidiu aliar o conhecimento de processos logísticos acumulado na Ilog, empresa em que trabalhou de 2000 a 2007 elaborando software de informações de negócio aplicado a operações logísticas, para tornar-se parceiro das transportadoras. "Eu me oferecia para melhorar o processo deles em troca da associação", diz. Aplicando números aqui e ali, o negócio foi se mostrando eficiente.

Os conhecimentos matemáticos também foram aplicados na própria empresa. Quem assina o serviço da NetMovies recebe um número determinado de filmes em casa (um, dois ou três) - e não tem prazo para devolvê-los. Ou seja: não há como estimar quanto tempo determinado título ficará indisponível para os outros clientes. O usuário pode definir manualmente uma lista do que deseja receber em casa, mas quem dá o veredicto sobre os filmes que serão entregues nas residências são os algoritmos criados por Topel e sua equipe.

Os cálculos envolvem disponibilidade de estoque, endereço, preferências e outras variáveis e são desenhados para atingir o nível máximo de satisfação dos usuários. É um sistema sobre o qual Topel procura falar pouco, mas que ele garante ser o diferencial da empresa. Apenas quatro meses depois de a NetMovies iniciar suas atividades, ainda em 2006, a concorrente Flexfilmes, que havia sido lançada seis meses antes, acabou colocando a operação à venda - prontamente arrematada pela NetMovies. "Eles tinham quatro vezes mais filmes, mas nosso sistema permitiu um nível de eficiência mais alto", diz.

Aplicando números aqui e ali, o negócio cresceu. Após três anos de operações, a NetMovies soma hoje cerca de 70 funcionários, 20 000 filmes no acervo e a compra de três de seus quatro maiores concorrentes: Videoflix, Pipoca Online e Flexfilmes (o único grande concorrente que restou é a Blockbuster Online, do grupo B2W). Para 2010, a meta é aumentar em 350% o faturamento de 2009, o que significa fechar o ano com receita de mais de 50 milhões de reais. Além de crescer o negócio de locação - que já tem cobertura em quase 100 cidades -, a NetMovies vai abrir uma nova linha de receita: a publicidade geolocalizada. Unindo as informações sobre o endereço dos assinantes com suas preferências cinematográficas, Topel pretende vender o espaço nos envelopes dos filmes para anúncios hiperdirecionados. "Posso garantir que o anunciante vai ter impacto em mulheres, em determinado bairro e de uma faixa etária específica, por exemplo", diz. Além disso, a empresa aposta em novas mídias e formatos, como os vídeos online, serviço lançado no ano passado e que hoje soma 1 500 títulos que podem ser assistidos via streaming. As iniciativas da americana Netflix também dão mostras dos caminhos que a empresa deverá percorrer por aqui. Lá, por exemplo, os filmes podem ser baixados por aparelhos de videogame como Xbox ou Playstation, e o usuário assiste ao filme no televisor. No começo de agosto, a Netflix pagou 1 bilhão de dólares pelos direitos de oferecer também via internet filmes dos estúdios Paramount Pictures, Lions Gate e MGM. "São ofertas que nós planejamos poder disponibilizar para os usuários brasileiros em breve", diz Topel.

O presidente da NetMovies é conhecido por perseguir suas ideias obsessivamente. Igor Heinzer, com quem Topel morou e também trabalhou durante sua temporada nos Estados Unidos, diz que o colega sempre foi reconhecido por seu comprometimento. "E isso sem perder a esportiva", afirma. Certa vez, quando os amigos o chamaram para fazer snowboarding em Lake Tahoe, na Califórnia, Topel aceitou, mesmo sem experiência alguma no esporte. Enquanto eles seguiram para a montanha com equipamentos e trajes apropriados, o iniciante os acompanhou usando jeans.

Topel passou três dias caindo na neve, enquanto os demais se divertiam à sua custa. Mesmo assim, ele reagia a tudo com bom humor e novas tentativas. "É muito parecido com seu perfil profissional", diz Heinzer. "Ele não desiste de algo que esteja decidido a fazer." Há quem diga, no entanto, que tamanha obsessão pode atrapalhar em negociações. "Ele é muito ansioso e, às vezes, não parece muito disposto a ouvir", diz um executivo de uma empresa que negociou uma parceria com Topel. Mesmo dentro da NetMovies, os funcionários de longa data são os que conseguiram de alguma maneira se adaptar à forma de trabalho do chefe. "Ele sempre responde a uma nova ideia questionando tudo o que acha que pode dar errado, e isso pode soar como um balde de água fria", diz Gustavo Capistrano Haramuro, gerente de operações da NetMovies desde 2007. "Mas é o jeito dele de avaliar sua sugestão. Se ele comprar a ideia, vai defendê-la até o fim."

O perfil de Topel agradou à holding Ideiasnet, que no início deste ano investiu 4,5 milhões de reais na NetMovies. "Pela própria formação acadêmica do Daniel, já é possível perceber que se trata de uma pessoa diferente", diz Marcelo Almeida, diretor de desenvolvimento de negócios da Ideiasnet, empresa listada na Bovespa que também tem participação em companhias de base tecnológica. O apoio do investidor representou o fôlego necessário para alcançar o objetivo que, desde o início, os números indicaram como fundamental: escala. Agora, a NetMovies busca variar seus canais de negócios para cumprir a meta de crescimento exigida pelo investidor, que possui 52,8% da empresa. Diz o ditado que "números não mentem". Mas a criação das fórmulas que apontam para os resultados certos depende do matemático. É aí que Topel comemora sua formação: 'Para alguma coisa a física tinha de servir'."