Mais uma história aluscinante do colunista da Infomoney, Roberto Altenhofen, que me amarro em acompanhar.
Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira
InfoMoney
SÃO PAULO - Após uma crise com raízes no sistema financeiro, as autoridades lutam para regular as atividades do mercado de maneira mais agressiva. Recentemente, a Securities and Exchange Commision, órgão norte-americano encarregado de controlar as atividades no mercado norte-americano, baniu o flash trading, ferramenta em que potenciais operadores usam uma tecnologia de alta velocidade para enviar pedidos de compra e venda de ações para clientes segundos antes de elas serem abertas ao mercado.
O pressuposto básico é que o funcionamento natural do mercado só pode ser pleno se todos os agentes possuem as informações de maneira simétrica. Com este debate em curso, Personagens do Mercado viaja há alguns anos, atrás do nome responsável por popularizar a utilização de informações privilegiadas como maneira de tirar vantagem nas operações.
Ivan "o terrível" Boesky tem nome de russo, origem judaica, mas é nascido nos Estados Unidos, mais especificamente em Detroit (1937). O apelido do meio foi dado pela revista Times, em matéria sobre as atividades do mais famoso insider trader do mundo. Um título que pode ser contestado.
De fato, Boesky não pode ser considerado o pai do insider trading, até porque esta prática é tão antiga que não era proibida até o crash de 1929. Só para citar alguns dos mais famosos insider da história, dá para recorrer aos nomes de Joseph Kennedy - pai do presidente assassinado JFK - e de John Maynard Keynes, cuja participação e visão privilegiada dos eventos macroeconômicos aparece como informação assimétrica perante os reles participações do mercado à sua época.
Um agente da CIA no mercado
Apesar de reconhecidos por alguns como insider traders, estes dois não ficaram para a história dos mercados com o rótulo negativo que Boesky ficou. Até porque eram outros tempos; como citado, tempos em que esta prática não era proibida. Kennedy pai, inclusive, ajudou a criar a legislação contra o uso de informações privilegiadas pelos investidores, em seu mandato como chairman da SEC, logo após a Grande Depressão.
Mas a figura em questão é Boesky, pelo escândalo, pelo contexto, pelas ligações. Já quando a prática era bem controlada nos mercados, o especulador fez fortuna diante dos olhos atentos dos reguladores. Atentos, pois acabou sendo pego, mas até lá fez sua fortuna.
Explicar a aptidão de Boesky no assunto exige um olhar à sua formação. Após passar pelas universidades de Michigan, a Mumford de Detroit e a Wayne State University, trabalhou por diversos anos no Irã, a serviço da inteligência norte-americana - CIA. Pode vir daí a dificuldade de desmascarar suas operações no mercado.
A tacada sempre certa
Outro argumento é que, quando voltou para os Estados Unidos, se formou em Direito, isto em 1965. A partir daí, passou a operar. De maneira impressionante, apostava em movimentos de fusões e aquisições de empresas, sempre com tacadas certeiras e um pouco antes dos anúncios oficiais.
As aquisições "previstas" por Boesky o renderam uma fortuna estimada em mais de US$ 200 milhões em 1986, quando a SEC conseguiu enquadrá-lo. A investigação apontava que as apostas do investidor eram baseadas em dicas recebidas por pessoas próximas as negociações das empresas.
Delator
Neste contexto, Boesky ajudou a popularizar uma frase símbolo da geração yuppie em Wall Street: "Greed is good" - ganância é bom. Costumava pronunciar estas palavras, também atribuídas a Michael Milken, criador dos junk bonds, também preso por fraudes no sistema financeiro e que mantinha ligações com Ivan Boesky.
Como Milken, Boesky foi pego. Após cumprir dois anos de prisão, gastou boa parte de sua fortuna para voltar à liberdade. Ainda assim, foi exilado de Wall Street. Em um dos processos, gastou cerca de US$ 100 milhões em multa e acabou delatando outros investidores de seu esquema, inclusive Milken, para aliviar sua pena.
Hollywood e a esposa
Algumas questões interessantes circulam o nome de Boesky. Além de ser citado pelo personagem de Brad Pitt no filme "Onze Homens e um Segredo", também é creditado à construção do personagem Gordon Gekko, do longa-metragem Wall Street.
Além de Hollywood, seu nome apareceu nos noticiários em 1993, quando processava sua ex-mulher em busca de uma pensão, que obteve, de US$ 15 mil mensais. Mesmo reconhecendo que a fortuna de Seema Boesky vinha de suas operações ilegais, chegou a citar que "fiz ela rica além de sua imaginação".
Um conselho de amigo
Também chama atenção uma história com Jim Cramer, apresentador do programa financeiro "Mad Money" na CNBC, co-fundador do portal TheStreet.com e escritor. Cramer revelou que certa vez visitou um espaço para escritório em Nova York, com objetivo de encontrar locação para seu recém criado hedge fund. Foi atendido por Boesky, e lembrou que seu antigo chefe no Goldman Sachs, Rick Rubin, sempre havia lhe dito para ter cuidado com o tal Ivan Boesky.
Cramer encontrou um grande espaço, perfeito para suas necessidades, mas que Boesky não queria ceder, apenas negava as investidas de Cramer abanando a cabeça. Apesar de não ceder o espaço, Boesky foi muito elegante. Ao chegar em casa naquele dia, Cramer diz que entendeu o conselho de Rubin, ao assistir o noticiário e ver o retrato de Boesky, preso por utilizar de informação privilegiada no mercado.
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