Parece que não é só o Eike Batista que teve coragem de abrir uma empresa de petróleo. Um ex funcionário da Petrobras, junto com outros nomes de peso (vide texto abaixo), dono de uma empresa de petróleo chamada HRT Oil & Gás, captará dinheiro na bolsa para financiar sua exploração.
Segundo o texto abaixo, há 20 anos atrás Mello já afirmava existir petróleo no pré-sal. É mole? Se outras de suas suposições se confirmare, a HRT será uma grande empresa de petróleo.
Só sei que cada dia que passa fico mais admirado com as coisas que vêm acontecendo. Os empresários brasileiros estão com tudo.
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Fonte:
aquiAos sete meses de idade, a HRT Oil & Gás tornou-se a terceira maior petroleira privada do país em área de concessão, atrás da Petra Energia e da Oil M&S, com mais áreas no Brasil do que a OGX. A empresa que nasceu do sonho de um grupo de ex-funcionários da Petrobras comprou na semana passada três blocos exploratórios no mar da Namíbia e se prepara para explorar petróleo e gás na bacia de Solimões - onde tem 21 blocos ao redor da reserva de Urucu, da Petrobras, em sociedade com a Petra Energia, do empresário Roberto Viana. As áreas foram adquiridas por US$ 30 milhões e receberão investimentos de US$ 120 milhões.
A HRT parece trilhar caminho parecido com o da OGX, de Eike Batista. Ambas abriram o capital inicialmente com uma oferta privada, tiveram investidores de peso e ainda não produzem petróleo ou gás. A OGX teve como um dos investidores iniciais o ex-presidente do Banco Central e financista Armínio Fraga através do seu Gávea Investimentos. Já a HRT tem o bilionário fundo americano MSD Capital, de Michael Dell, fundador da Dell Computers. Agora, após captar US$ 275 milhões no ano passado, a empresa tem planos de fazer uma oferta pública de ações na Bovespa em julho, adiantou o presidente da HRT, Marcio Rocha Mello, em entrevista ao Valor. O pedido de registro foi apresentado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em abril.
Da captação privada, concluída em em outubro do ano passado, participaram 66 investidores estrangeiros, incluindo Michael Dell, que comprou 12% da empresa, segundo Mello. Com o controle da HRT nas mãos, que chega a 14% somando a participação dos sócios brasileiros, Mello diz que não é um milionário, fugindo de qualquer tentativa de comparação com os executivos do grupo de Eike Batista.
"Sou da classe média. Tudo o que eu tenho - tirando meus carros, minha casa em Angra (dos Reis), meu apartamento na Vieira Souto, que aliás comprei cinco anos atrás - está nessa companhia. Tudo o que eu tenho e que eu fiz está aqui. E eu não posso e nem vou tirar nunca porque senão perco o controle dessa companhia", responde o executivo, que é geólogo e tem doutorado em geoquímica molecular.
Um dos primeiros a defender a tese de que havia petróleo no pré-sal brasileiro 20 anos atrás, Mello criou cinco empresas desde que deixou a Petrobras em 2000 para tentar carreira solo no setor. Junto com sócios, Mello fundou a Analytical Solutions (especializada em análises de alta tecnologia), depois vieram a Petroleum Enviromental Geoservices (PEG) e a Geochemical Solutions (de geoquímica e avaliação de sistemas petrolíferos). Elas foram vendidas em 2004, pouco antes de Mello fundar a High Resolution Technology & Petroleum, empresa de consultoria que prestava serviços para grandes companhias, entre elas a Exxon. No ano passado nasceu a HRT Oil & Gas e a Perícia Integrada Petroleum (Ipex), especializada em análise ambiental. As duas últimas são controladas pela HRT Participações.
"A HRT surgiu de um sonho. O sonho de que ao sair da Petrobras um grupo de geocientistas um dia iria formar uma grande companhia de petróleo. Esse grupo, do qual faço parte, iria traçar o caminho de companhias de serviço e tecnologia até ficar grande o suficiente para formar uma grande companhia de petróleo", resume Mello.
A empresa de óleo e gás é comandada por um grupo de oito acionistas liderados por Mello, um visionário e falante geólogo. Atualmente a HRT ocupa quatro andares de um luxuoso prédio na av. Atlântica, de frente para o mar de Copacabana. No escritório os visitantes são convidados a colocar pantufas em cima dos sapatos para não sujar o carpete felpudo e imaculadamente branco, numa decoração muito diferente da que é vista em escritórios no Rio. De pantufas, Mello diz que o branco traz energia boa e conta que só anda descalço em casa. "A parte mais sensível e que recebe toda a energia são os pés", explica. Na parede da sala, os diplomas, certificados e até uma foto sua, emoldurada, junto com Sam Nujoma, primeiro presidente da Namíbia (país que ele governou por 15 anos) e líder da campanha de libertação daquele país.
Com um estilo singular de contar histórias, Mello é um boa-praça apaixonado por geologia que não quer vincular a HRT à sua pessoa. E enumera os nomes dos sócios e executivos que hoje compõem a diretoria para frisar que ali existe "uma grande companhia de petróleo". A HRT tem como executivos John Forman (ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo), Antonio Carlos de Agostini (ex-diretor de produção e exploração da Petrobras), Eduardo Teixeira (ex-presidente da Petrobras e ex-ministro da Infraestrutura no governo Collor), Milton Franke (ex-diretor da Norse Energy e ex-ANP), Nilo Chagas de Azambuja Filho (ex-Petrobras) e Carlos Tersandro Adeodato (ex-BB), só para para citar alguns dos 35 executivos considerados peças-chave e que receberam ações.
Plano é produzir 100 mil barris em 2014
Ainda em fase pré-operacional, com 21 blocos em fase exploratória na bacia do Solimões, na Amazônia e cinco em águas profundas da Namíbia, na África, o plano de negócios da HRT Oil & Gas prevê uma produção de 100 mil barris de óleo leve por dia em 2014. A empresa acaba de receber da certificadora DeGolyer & MacNaughton a estimativa de que alguns de seus blocos tenham reservas potenciais, só da HRT, de 2,1 bilhões de barris, sendo 1 bilhão no Solimões. A certificação foi feita em apenas um terço dos blocos sob concessão da companhia. "Mas quando tiver tempo de analisar o portfólio, isso deverá passar dos 8 bilhões de barris certificados nas duas bacias", estima o presidente, Marcio Mello, em previsão para lá de otimista.
A empresa alugou duas sondas da Toscany para perfurar na Amazônia e já reserva outra para a costa da Namíbia, área que junto com a Amazônia Mello considera "uma das últimas fronteiras exploratórias para se encontrar campos gigantes" como os do pré-sal.
"Há 600 milhões de anos todo o Norte da Africa e a Amazônia formavam um grande cinturão. E no oeste da Africa descobriram, nesse mesmo tipo de bacia, 150 bilhões de barris de reservas na Argélia, Tunísia e Líbia. E é igual à Amazônia. Então se eu tenho 159 bilhões de barris ali, quantos eu tenho na Amazônia?" Isso, só o tempo e as futuras perfurações no local dirão.
No país africano a HRT opera cinco blocos offshore, sendo que em dois deles tem 100% da licença e em outros três é sócia (e operadora com 40%) da canadense Universal Power e de uma empresa local chamada Acarus. Eles cercam um campo gigante de gás chamado Kudu e operado pela russa Gazprom, a Tullow Oil e a estatal Namibian State Oil Company (Namcor). Ao chegar ao país a HRT comprou a Lábrea Petróleo de quem herdou dois blocos no país e participação de 10% em quatro concessões em terra nas bacias do Espírito Santo, Recôncavo e Rio do Peixe, operadas pela Cowan, onde já foram notificadas descobertas de petróleo em dois poços, enquanto um terceiro está sendo perfurado.
Se todos esses ativos resultarem em descobertas comerciais de petróleo e gás, a companhia pode cumprir um dos maiores desejos de seu fundador, que é transformar a HRT em "uma das maiores companhias independentes de petróleo do Brasil".
Trocando em miúdos
Assim como a OGX, que está com 20% de seus ativos à venda para financiar o próximo ciclo de investimentos, a HRT é uma empresa em fase pré-operacional. Grande parte do sucesso dela e de outras nesse estágio vai depender do sucesso com que vão conseguir, primeiro, confirmar as reservas de petróleo estimadas em suas áreas sob concessão. Depois, é preciso trazer à superfície, por um custo razoável, o petróleo que está armazenado em rochas embaixo da terra. Em alguns casos, o indice de recuperação do petróleo em um reservatório é de apenas 10% do volume armazenado. A média da indústria é de 35%, apesar de a Petrobras ter histórias de sucesso com a recuperação de até 50%.
Já no caso de óleos pesados encontrados em alto mar, o custo de produção é altíssimo e depende de tecnologias avançadas. Uma delas, usada recentemente pela Shell no Espírito Santo, consiste em aquecer o petróleo pesado ainda embaixo da terra para que ele possa fluir melhor. Quanto mais pesado o petróleo, mais cara é sua extração e processamento. Economicamente a equação também é mais desfavorável quando se tem custo maior de produção somado a um menor valor comercial (o petróleo pesado brasileiro, por exemplo, é vendido com "desconto" sobre a cotação do brent). Já os óleos mais leves fluem melhor, podem ser extraídos mais facilmente e tem maior preço já que podem gerar mais produtos nobres como, por exemplo, o óleo diesel. Dependendo do custo, do tipo de óleo e do tamanho do reservatório, o jeito é deixar como está.
Cláudia Schüffner