quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Romero Rodrigues - O dono do Buscapé busca disponibilizar novos serviços


Já postei a história do Buscapé aqui uma vez, e não poderia deixar essa matéria que eu achei passar.

"O que Romero Rodrigues está fazendo para o Buscapé deixar de ser apenas um site de comparação de preços e se tornar um grande fornecedor de serviços de comércio eletrônico"

Por Raquel Grisotto do PortalExame:

"Eu não sei que brincadeira é essa. Mas não quero ficar com fama de careiro. Exijo que tirem minha loja desse site imediatamente ou processo todo mundo." Foi assim que o diretor de uma grande rede de varejo reagiu ao surgimento do site comparador de preços Buscapé, em junho de 1999. Um dos fundadores - Romero Rodrigues, então com 20 anos - foi quem atendeu a ligação. "Era a primeira vez que o telefone tocava e já estávamos ameaçados de problemas na Justiça", diz ele.

A reação irada do executivo dá uma medida do grau de inovação contido no Buscapé, o primeiro site do gênero no Brasil. Novidade num mercado em formação, o site rapidamente conquistou a simpatia dos internautas e, em menos de dois anos, seus donos puderam cobrar dos lojistas que queriam aparecer no canal. Com 7 milhões de produtos cadastrados e 320 000 anunciantes, o Buscapé é hoje um grupo de 11 empresas que devem faturar 75 milhões de reais neste ano. Seu modelo de negócios é baseado em audiência - o site ganha de 10 a 80 centavos do anunciante a cada clique em determinado produto, independentemente de a venda ser efetivada.

O Buscapé resistiu ao estouro da bolha da internet, há oito anos. O momento que Rodrigues e seus sócios atravessam agora é comum a muitos pequenos e médios negócios que, após passar pelo teste da sobrevivência, experimentam forte expansão e viram líderes num mercado novo. Por um lado, é praticamente certo que algum crescimento virá com o tempo, à medida que o próprio mercado crescer. Por outro, depender disso é perigoso - a expansão pode não ocorrer com a rapidez necessária e novos concorrentes podem surgir e atrapalhar. "Para crescer a taxas altas, uma empresa com as características do Buscapé deve continuar inovando e entrar em mais mercados", diz Daniel Domeneghetti, da consultoria em estratégia e tecnologia E-Consulting.

É exatamente isso que Rodrigues - hoje com 31 anos e o jeito de menino de sempre - tem se empenhado em fazer como presidente do grupo. Pergunte a ele qual a sua meta e você ouvirá uma resposta que não deixa dúvida quanto à sua ambição: "Queremos mudar a cara do varejo online no Brasil". Traduzido para uma linguagem estratégica, isso significa que o Buscapé deixará de apenas comparar preços para se tornar um grande fornecedor de ferramentas de comércio eletrônico, especialmente para pequenas e médias empresas.Para isso, Rodrigues reposicionou completamente o Buscapé no mundo dos negócios.

Mais cliques, mais vendas

Como comparador de preços, a empresa atuava basicamente nas etapas anteriores a uma venda. "Precisávamos crescer também com serviços pós-venda", diz Rodrigues. Para construir esse novo Buscapé, Rodrigues passou os últimos dois anos à frente de dezenas de negociações, que culminaram com quatro aquisições, amparadas pelo fundo americano Great Hill Partners, que tem participação no negócio desde 2006. A onda de compras começou com a aquisição de seu principal concorrente, o Bondfaro. Depois, Rodrigues colocou no carrinho negócios como o e-bit (especializado em pesquisas de opinião com internautas), o Pagamento Digital (plataforma para gerenciar pagamentos de compras online) e o FControl (ferramenta para reduzir fraudes nas transações feitas pela internet). "A gente podia ter desenvolvido tudo dentro de casa mesmo", diz. "Mas seria muito demorado para o objetivo que temos em mente." Rodrigues não está sozinho na tentativa de conquistar pequenas e médias empresas para a base de clientes. A mesma estratégia está sendo seguida por outras empresas. É o caso do UOL, por exemplo, que lançou seu próprio comparador de preços. "A briga por anunciantes e audiência será grande", afirma Ricardo Dortas, diretor de novos negócios do UOL.

Dortas e Rodrigues estão de olho sobretudo nas pequenas e médias empresas que ainda não fazem comércio eletrônico. Segundo a Receita Federal, o Brasil tem 9,8 milhões de empresas ativas - desse total, estima-se que 5 milhões sejam de pequeno porte. Há apenas 16 000 empresas brasileiras que fazem comércio eletrônico - e as pequenas e médias têm uma fatia pequena do bolo. A maior parte do faturamento está com empresas do porte de Submarino e Ponto Frio. "Perto de 85% de todo o volume comercializado pela internet no Brasil está com 15 grandes lojas", afirma Gerson Rolim, diretor da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico. "Isso dá uma idéia das muitas oportunidades para empresas de pequeno e médio portes e de negócios estruturados para elas."

As compras do Buscapé

Há alguns motivos para acreditar que a internet deverá exercer um poder de atração maior sobre os pequenos e médios negócios daqui por diante. José Calazans, analista de mídia do Ibope//NetRatings, aponta dois: o maior acesso de usuários das classes C e D e a entrada anunciada de grandes varejistas no comércio eletrônico, como Carrefour e Casas Bahia, além da chegada do Wal-Mart, que estreou sua loja virtual no início de outubro. "Num primeiro momento, isso vai ajudar a aumentar a massa consumidora", diz Calazans. "Depois, acabará gerando oportunidades para empresas de todos os tamanhos." Para esse tipo de consumidor, segundo Calazans, os comparadores de preço desempenharão um papel essencial. "Os novos usuários são muito sensíveis a preços e às opiniões dos outros internautas", afirma.

Entre as tecnologias que o Buscapé passa a oferecer está a possibilidade de monitorar o desempenho da loja virtual e acompanhar hábitos de consumo detalhados de seus consumidores, o que ajuda o pequeno ou médio empresário a encontrar formas novas de abordá-los e a planejar promoções. Outro trunfo é oferecido pelo Pagamento Digital, que permite ao lojista parcelar as vendas mesmo sem acordos com operadoras de cartões de crédito ou bancos - a transação é feita por meio de um cartão específico administrado pela financeira Cetelem.

Uma das armas em que Rodrigues mais confia para executar sua estratégia é um serviço que passou a ser oferecido desde março, pela FControl, que ajuda a afastar um dos maiores receios dos pequenos e médios empresários - as fraudes. As perdas com transações fraudulentas são, segundo a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, o principal motivo da morte precoce das pequenas empresas na internet. Antes de uma transação ser autorizada, a ferramenta verifica as aquisições mais recentes feitas na rede com um mesmo número de cartão. "Apenas grandes corporações conseguiam desenvolver formas de combater transações fraudulentas", afirma Rolim. Ao oferecer todas essas soluções simultaneamente, Rodrigues quer garantir a sobrevida desses comerciantes na rede. "O crescimento sustentado do Buscapé está diretamente relacionado ao êxito desses pequenos negócios", diz ele. "Queremos que os novos clientes fiquem conosco para sempre." Com exceção do FControl, que será cobrado após seis meses de utilização, os demais serviços serão oferecidos gratuitamente. "Nossas receitas virão dos anunciantes", afirma Rodrigues. "Se mais lojas estiverem online, mais lojas vão anunciar no Buscapé."

Tudo isso tem um impacto e tanto no perfil de um negócio que, no Brasil, personificou perfeitamente o que os americanos chamam de "empresa de garagem" - um empreendimento que começa sem grandes pretensões, mas que pode virar um império. No caso brasileiro, em vez da garagem, foi um quartinho que abrigou Rodrigues e dois amigos - Ronaldo Takahashi e Rodrigo Borges, ambos na época com 22 anos -, que acreditavam que o comércio eletrônico iria vingar.

Só 300 reais

A idéia do Buscapé surgiu quando um deles precisou de uma impressora e tentou pesquisar preços na internet. "Não havia nada que fizesse esse levantamento", diz Rodrigues. Estudantes de engenharia da Escola Politécnica da USP, eles vararam madrugadas até desenvolver um software adequado. Foi preciso apenas 300 reais de investimento inicial. Quando entrou no ar, o Buscapé reunia somente 35 lojas - esse era o tamanho de todo o comércio eletrônico no Brasil.

Em 2000, quando a bolha da internet estourou, o Buscapé estava em negociações para receber um aporte de capital do fundo americano Merrill Lynch, que foi sócio do site até a chegada do Great Hill Partners. "Os americanos estavam perdendo muito dinheiro com outras empresas ponto-com e quase desistiram da gente", afirma Rodrigues. "Tivemos de ficar dois anos sem salário e nos comprometer a dar dinheiro logo." Os resultados apareceram um ano depois.

Os três amigos continuam no negócio como sócios. Cada um tem uma função estratégica específica. Borges é vice-presidente de desenvolvimento de produto e Takahashi é vice-presidente de distribuição. A Rodrigues cabe o papel mais vistoso - além de principal executivo, ele virou o porta-voz da empresa. "Como apareço mais, às vezes fico com o mérito de um trabalho que é de muita gente", diz. Hoje, são 350 funcionários trabalhando no grupo. "O Romero sempre foi um excelente vendedor", afirma Takahashi, agora com 33 anos. "Era natural que ele se tornasse o principal executivo."

Rodrigues sempre quis ser empreendedor e postergou a entrada nos negócios da família o quanto pôde. Seu pai teve uma pequena construtora e, atualmente, tem uma loja de itens para banheiro. Antes de desenvolver o Buscapé, Rodrigues chegou a criar uma empresa de software de gestão. Desistiu quando achou que o negócio não oferecia escala necessária para crescer rapidamente sem grandes investimentos.

Até aqui as estratégias seguidas pelo Buscapé funcionaram. O comparador de preços tem 4 milhões de usuários num universo de 12 milhões de internautas que compram pela internet. O faturamento do grupo de 2005 para cá cresceu 316% - o aumento das vendas do comércio eletrônico como um todo no Brasil foi de 240% no período. Bem amarradas, as aquisições contribuíram para a consolidação e, daqui para a frente, vão sustentar a atuação do grupo em atividades complementares. Fora isso, o Buscapé ainda desenvolveu o QBarato!, site de classificados gratuitos que, segundo o Ibope//NetRatings, foi o que mais cresceu em audiência entre todos os sites de comércio eletrônico no Brasil no último ano. O QBarato! ainda não dá dinheiro para o Buscapé, mas gera audiência - exatamente o que faz a diferença na hora de negociar com os anunciantes.

Para Rodrigues, o Buscapé já tem tudo de que precisa para continuar crescendo no país. "Novas aquisições, a partir de agora, só se for para ampliar nossa atuação no exterior", diz. Fora daqui, o Buscapé está presente em 28 países. Quando chegar a hora de conquistar mais espaço lá fora, Rodrigues planeja abrir o capital para levantar recursos além dos gerados no caixa da empresa. "Com o mercado como está, não deve dar para fazer isso tão já", afirma. "Mas temos de nos preparar para quando esse momento chegar."

1 comentários:

Fernanda Magalhães disse...

Gostei do que li.

Uma abraço querido.