Mal postei o livro que terminei de ler para download e já surgiu um assunto novo e interessantíssimo para comentar aqui. Eu, como apaixonado por histórias de sucesso e tecnologia, acabei descobrindo, sem querer, uma história que une as duas coisas.
Estava conversando com um amigo aqui da empresa e ele me contou que um outro "colega" nosso, também funcionário da Petrobras, estava indo fazer um mestrado numa área muito bacana na Inglaterra. Só que, para isso, estava pedindo demissão. Muitos, hoje em dia, acham loucura uma pessoa que entrou como nível superior na Petrobras pedir demissão. Desta forma, chegaram a conclusão que o pai dele deveria ser bem de vida. Afinal de contas, arriscar um bom emprego para fazer um mestrado, pode não ser garantia de futuro. Se bem que eu discordo dessa afirmação.
No meio dessa conversa, disseram que o nome do pai do garoto era Aleksander Mandic. E eu já tinha ouvido falar nesse nome. Como sou uma pessoa péssima para associar nome à pessoas, resolvi fazer uma pesquisa no google. E o que eu descubro?
Alguém já ouviu falar no Mandic mail? Não? Bom, então você anda um pouquinho desatualizado do que surge de novidade na internet. Mas, Mandic mail a parte, vamos a história do Aleksander, que foi escrita pelo próprio em seu site...
Não deixe de ler. É impressionante o que um homem, uma vontade e pouco investimento, conseguiram até os dias de hoje. Aliás, não é só impressionante, mas fascinante também.
Confiram:
"Mandic abriu um negócio em 1990 onde o capital era um micro 286, uma linha telefônica e ele próprio. Do começo, no quarto de casa, à venda em 1997, a MANDIC virou case em Harvard e agora abre novamente suas portas com outra idéia inovadora:
Oferecer serviço de e-mail diferenciado para aqueles que precisam do e-mail para trabalhar.
"Não sabendo que era impossível, eu fui lá e fiz". Sempre digo que tudo é possível.
Quando ganhei minha primeira calculadora de bolso Cassio, simplezinha que fazia apenas quatro operações, descobri que os cálculos me fascinavam e nunca mais deixei de fazer contas.
Até a chegada do meu primeiro micro AT, hoje peça de museu, passaram-se algumas décadas.
Trabalhei 17 anos chefiando um departamento de eletrônica na Siemens, meu único trabalho com carteira assinada. Em 1989, durante um processo de instalação de sistemas numa fábrica de automóveis no ABC, na Grande São Paulo, vislumbrei a possibilidade de criar um mecanismo onde os usuários pudessem trocar informações à distância. Vi naquilo a única chance do meu computador deixar de ser uma ilha e trocar conhecimento com outras pessoas.
Em outubro de 1990 nascia, com 60 megabytes de capacidade, a MANDIC BBS. No mesmo ano o Brasil entra na internet, fazendo sua primeira conexão - ainda em âmbito acadêmico.
Também em 1990, a IBM e a Microsoft tomaram caminhos separados. A IBM continuou a aprimorar e vender o sistema operacional OS/2 e a Microsoft apostou todas as cartas no Windows, transformando-o no primeiro ambiente além do DOS, a vir pré-instalado na maioria dos PCs.
Percebi, neste momento, a importância de oferecer serviços de comunicação para o usuário final, pois o crescimento de PCs seria enorme nesta última década do século 20.
Em 1992 nos Estados Unidos, por exemplo, o Software Development Group (Grupo de Desenvolvimento de Software), do National Center for Supercomputer Applications (NCSA - Centro Nacional de Aplicações para Supercomputadores) criou o College, um programa que reunia pesquisadores e experts em rede - todos ambiciosos com as novas possibilidades da troca de informação remota.
Eu não morava nos Estados Unidos, não tinha feito curso superior e nem participava de um grupo de pesquisa sobre o que viria a ser a Internet, mas já queria arrumar um jeito de trafegar dados pela rede.
Era um mundo em verde e preto, com uma tela de computador apenas com letras e números. "Parece que faz 30 anos, mas são só 12 anos". E pensar que nem tínhamos Internet disponível para o cidadão comum, era restrita ao mundo acadêmico.
Para viabilizar meu sonho fui procurar a Embratel, que na época era proprietária de um sistema de tratamento de mensagens, chamado STM 400. Como não funcionava direito, montei meu próprio Bulletin Board System - BBS.
Enquanto em 1992, o designer e pesquisador Jean François Groff convidou Tim Berners Lee, o inventor da World Wide Web (WWW), para ser o primeiro aluno do projeto InfoDesign, no qual ambos trabalharam em implementações de arquitetura e protocolos da versão original da Web, eu mantinha a MANDIC instalada no quarto de hóspedes da minha casa - numa jornada de horários malucos, sempre antes das 6h00 ou depois das 18h00, quando chegava da Siemens. Foram três anos de jornada dupla, sem sábado, domingo ou Natal. Trabalhava de dia na Siemens e de madrugada na MANDIC.
Gosto de lembrar para os internautas de hoje, que navegar pelo espaço cibernético a bordo de um computador IBM PC-286 era uma tarefa para poucos. Usávamos o sistema operacional MS-DOS e a placa de modem mais veloz do mercado trafegava 300 bits por segundo. Na época o Pkzip, um programa compactador de dados, fazia o maior sucesso no BBS, como também o protocolo de comunicação Zmodem.
No ano seguinte, 1993, a Intel lança o processador Pentium, um 586 com outro nome e eu consigo manter pessoalmente 400 usuários; mas para crescer, precisei alugar, do meu padrasto, o andar de baixo. Foi a hora de trocar o PC 286 por um servidor 486 conectado a uma rede Novell e estações 386.
Nesta época existiam uns 50 provedores de acesso que concorriam comigo, por isso resolvi investir no atendimento ao cliente. Nunca fui um bom programador. O que mais vale, na minha opinião, é a idéia, o ativo mais barato que existe.
Sempre digo: se você for fazer uma coisa, exagere, senão dá errado. Se fizer igual a todo mundo, será ultrapassado logo.
Minha grande dúvida na época era como eu iria ganhar dinheiro e cobrar por um serviço que algumas empresas ofereciam de graça? A resposta veio logo à cabeça, enquanto eu dormia. Acordei e anotei rápido num bloquinho que eu deixava ao lado da cabeceira da cama. A justificativa para cobrar pelo serviço oferecido era a qualidade.
Resolvi que não teria férias, nem sequer um domingo de folga, pois iria responder e atender pessoalmente o meu cliente. Deu certo! Fui o único na época a oferecer suporte 24 horas. A propaganda dependia do boca-a-boca, mas eu sempre arrisquei o pescoço todos os dias para oferecer melhores serviços ao meu cliente.
O BBS sempre precisou trazer bons resultados para o cliente e para a empresa. Em 1993, o BBS já me pagava US$ 80 por dia, o que me garantia um salário de cerca de US$ 2 mil por mês. Também em 1993, a Microsoft lançou o Windows NT, uma versão de 32 bits que era um sistema operacional verdadeiramente auto-suficiente: não precisava do DOS.
Neste mesmo ano eu deixei a Siemens e passei a me dedicar full time a MANDIC.
Eu descia às 6 horas da manhã e só voltava para casa depois das 23 horas. Mantive a empresa caseira até 1995, quando os vizinhos começaram a reclamar das 80 linhas telefônicas instaladas num edifício residencial.
Não pensei muito, abri o jornal e vi um anúncio de escritório para alugar na Avenida Pedroso de Morais, em Pinheiros, no mesmo bairro que eu morava. E por ser na cobertura do prédio facilitava a instalação das linhas telefônicas. Nem precisei mudar os prefixos.
A Internet nascia com a possibilidade de oferecer ao usuário a abertura da maior biblioteca do mundo. E a MANDIC não podia ficar de fora. No ano de 1993, existiam 1,7 milhão de computadores conectados em todo o planeta. Em 1997, o número pulou para 20 milhões, de acordo com o guia Computer Industry Almanac.
Os já famosos sites de busca começaram a se interessar também pelo ambiente gráfico. Exemplos como o Yahoo!, AltaVista, WebCrawler, Excite e Lycos começaram a pesquisar, junto com as Universidades, melhores interfaces para suas páginas, ao mesmo tempo que começavam a agregar conteúdo através de parcerias com empresas de mídia.
No ano seguinte, em 1994, começava o uso comercial da rede, com sites dedicados à venda de livros, CDs e até mesmo flores. Neste mesmo ano contratei o jovem programador Ricardo Ikeda, recém saído da Escola Politécnica da USP, para transformar todo o sistema da BBS em Internet.
Queria que meu usuário pudesse trocar de plataforma automaticamente e com isso saí novamente na frente da concorrência. Fui o primeiro provedor de acesso a oferecer Internet para 10 mil usuários.
Apostei todas as minhas fichas em algo que não existia e funcionou. Logo crescemos para 20 mil usuários e nesta hora vivi o momento mais crucial da minha vida. Precisava injetar dinheiro pesado para crescer, tinha os US$ 100 mil necessários em caixa, mas não queria abrir mão da minha poupança pessoal.
Resolvi procurar um investidor. Em setembro de 1996 fechei um acordo financeiro com o grupo Garantia Participações - GP.
A trajetória financeira da MANDIC foi a seguinte: no primeiro ano como MANDIC S/A, em 1992, faturei US$ 3 mil, no segundo US$ 30 mil; no terceiro, US$ 800 mil; no quarto ano, US$ 2 milhões; no quinto, US$ 5 milhões e em 1997, US$ 10 milhões.
Mas, nunca desperdicei ou mesmo gastei o dinheiro do investidor. Lembro que ao invés de comprar máquinas, optei pelo leasing. Se alguma coisa desse errado, o leasing garantia o dinheiro em caixa, bastava devolver os equipamentos.
Quando o UOL ingressou fortemente no mercado, em maio de 1997, distribuindo kits de acesso para seus 300 mil assinantes, resolvi fazer igual, mas oferecer um atendimento melhor. Comprei o mesmo espaço publicitário que o UOL utilizou na Folha de S. Paulo e publiquei no próprio jornal o anúncio dos kits de acesso da MANDIC. Foi um tremendo sucesso.
A Internet em 1997 era divertida, mas a dura concorrência travada com o UOL e o Zaz (futuro Terra), recém capitalizado pela compra do provedor de acesso Nutec, mais uma vez me fez dar uma acelerada, como gosto de fazer quando dirijo.
1997 é considerado o ano no qual os capitais de risco descobrem um novo filão e com ele, dezenas de empresas abrem seu capital na Nasdaq - Sigla para National Association of Security Dealers Automated Quotation. Nesta bolsa de valores independente são negociadas ações de empresas de tecnologia e de Internet.
Percebi, acompanhando o movimento do mercado mundial e principalmente o norte-americano que só os grandes sobreviveriam e nesta hora, terminei meu casamento com o GP e fui para um novo patamar de valores, onde tive que vender o controle acionário para O Site.
A história recente todos conhecem: vieram os provedores de acesso grátis, onde ajudei a criar o iG. A bolha cresceu, tínhamos em 2000 uma dezena de portais e todos brigando pela concorrência em massa. UOL, Terra, iG, Globo.com, BOL, AOL, enfim, todo mundo querendo os milhões de pageviews.
Nesta hora, volto a fazer anotações no meu bloquinho: mandic:mail, o melhor serviço de e-mail da Internet. Bom, pago e para pessoas exigentes, que precisam do e-mail para trabalhar.
Terei um serviço que sempre irá buscar clientes que precisem do e-mail para trabalhar, que sejam formadores de opinião e que queiram pagar para ter um serviço diferenciado.
Vou começar apenas com e-mail, porque simplesmente é o serviço responsável por 80% do tráfego na Internet. Em 1996, já existiam 56 milhões de usuários em todo o mundo. No mesmo ano, 95 bilhões de mensagens eletrônicas foram enviadas nos Estados Unidos, em comparação às 83 bilhões de cartas convencionais postadas nos correios, segundo dados da Computer Industry Almanac, divulgados em 1998.
Para 2005, segundo os analistas de mercado, teremos em torno 766 milhões de usuários conectados à rede em todo o planeta e a volta dos pequenos empreendedores, em nichos especializados, como o que eu mais uma vez estou criando antes da concorrência.
Nos próximos anos, a rede sofrerá uma adaptação, sendo mais eficiente no tráfego de informações remotas como teletransporte de imagens e transferência de arquivos por meio de chips implantados em humanos - assistiremos à realização de eventos antes restritos ao mundo da ficção.
Um dos trunfos da MANDIC será manter a carteira seleta de 50 mil usuários de e-mail, meta para ser atingida em 12 meses. Quero gerenciar de perto o nosso crescimento, para sempre oferecer melhores e inovadores serviços de correio eletrônico para o cliente que acredita que ter um e-mail mandic:mail é uma grife, além de ter também a garantia de excelentes plataformas tecnológicas.
Com o desenvolvimento das novas gerações de celulares e o desenvolvimento crescente dos dispositivos portáteis (como Palm, por exemplo) será possível cada vez mais estar conectado de qualquer lugar do mundo e a qualquer hora. Investiremos pesado no acesso remoto, pois acredito que será um diferencial para nossos clientes."
Estava conversando com um amigo aqui da empresa e ele me contou que um outro "colega" nosso, também funcionário da Petrobras, estava indo fazer um mestrado numa área muito bacana na Inglaterra. Só que, para isso, estava pedindo demissão. Muitos, hoje em dia, acham loucura uma pessoa que entrou como nível superior na Petrobras pedir demissão. Desta forma, chegaram a conclusão que o pai dele deveria ser bem de vida. Afinal de contas, arriscar um bom emprego para fazer um mestrado, pode não ser garantia de futuro. Se bem que eu discordo dessa afirmação.
No meio dessa conversa, disseram que o nome do pai do garoto era Aleksander Mandic. E eu já tinha ouvido falar nesse nome. Como sou uma pessoa péssima para associar nome à pessoas, resolvi fazer uma pesquisa no google. E o que eu descubro?
Alguém já ouviu falar no Mandic mail? Não? Bom, então você anda um pouquinho desatualizado do que surge de novidade na internet. Mas, Mandic mail a parte, vamos a história do Aleksander, que foi escrita pelo próprio em seu site...
Não deixe de ler. É impressionante o que um homem, uma vontade e pouco investimento, conseguiram até os dias de hoje. Aliás, não é só impressionante, mas fascinante também.
Confiram:
"Mandic abriu um negócio em 1990 onde o capital era um micro 286, uma linha telefônica e ele próprio. Do começo, no quarto de casa, à venda em 1997, a MANDIC virou case em Harvard e agora abre novamente suas portas com outra idéia inovadora:
Oferecer serviço de e-mail diferenciado para aqueles que precisam do e-mail para trabalhar.
"Não sabendo que era impossível, eu fui lá e fiz". Sempre digo que tudo é possível.
Quando ganhei minha primeira calculadora de bolso Cassio, simplezinha que fazia apenas quatro operações, descobri que os cálculos me fascinavam e nunca mais deixei de fazer contas.
Até a chegada do meu primeiro micro AT, hoje peça de museu, passaram-se algumas décadas.
Trabalhei 17 anos chefiando um departamento de eletrônica na Siemens, meu único trabalho com carteira assinada. Em 1989, durante um processo de instalação de sistemas numa fábrica de automóveis no ABC, na Grande São Paulo, vislumbrei a possibilidade de criar um mecanismo onde os usuários pudessem trocar informações à distância. Vi naquilo a única chance do meu computador deixar de ser uma ilha e trocar conhecimento com outras pessoas.
Em outubro de 1990 nascia, com 60 megabytes de capacidade, a MANDIC BBS. No mesmo ano o Brasil entra na internet, fazendo sua primeira conexão - ainda em âmbito acadêmico.
Também em 1990, a IBM e a Microsoft tomaram caminhos separados. A IBM continuou a aprimorar e vender o sistema operacional OS/2 e a Microsoft apostou todas as cartas no Windows, transformando-o no primeiro ambiente além do DOS, a vir pré-instalado na maioria dos PCs.
Percebi, neste momento, a importância de oferecer serviços de comunicação para o usuário final, pois o crescimento de PCs seria enorme nesta última década do século 20.
Em 1992 nos Estados Unidos, por exemplo, o Software Development Group (Grupo de Desenvolvimento de Software), do National Center for Supercomputer Applications (NCSA - Centro Nacional de Aplicações para Supercomputadores) criou o College, um programa que reunia pesquisadores e experts em rede - todos ambiciosos com as novas possibilidades da troca de informação remota.
Eu não morava nos Estados Unidos, não tinha feito curso superior e nem participava de um grupo de pesquisa sobre o que viria a ser a Internet, mas já queria arrumar um jeito de trafegar dados pela rede.
Era um mundo em verde e preto, com uma tela de computador apenas com letras e números. "Parece que faz 30 anos, mas são só 12 anos". E pensar que nem tínhamos Internet disponível para o cidadão comum, era restrita ao mundo acadêmico.
Para viabilizar meu sonho fui procurar a Embratel, que na época era proprietária de um sistema de tratamento de mensagens, chamado STM 400. Como não funcionava direito, montei meu próprio Bulletin Board System - BBS.
Enquanto em 1992, o designer e pesquisador Jean François Groff convidou Tim Berners Lee, o inventor da World Wide Web (WWW), para ser o primeiro aluno do projeto InfoDesign, no qual ambos trabalharam em implementações de arquitetura e protocolos da versão original da Web, eu mantinha a MANDIC instalada no quarto de hóspedes da minha casa - numa jornada de horários malucos, sempre antes das 6h00 ou depois das 18h00, quando chegava da Siemens. Foram três anos de jornada dupla, sem sábado, domingo ou Natal. Trabalhava de dia na Siemens e de madrugada na MANDIC.
Gosto de lembrar para os internautas de hoje, que navegar pelo espaço cibernético a bordo de um computador IBM PC-286 era uma tarefa para poucos. Usávamos o sistema operacional MS-DOS e a placa de modem mais veloz do mercado trafegava 300 bits por segundo. Na época o Pkzip, um programa compactador de dados, fazia o maior sucesso no BBS, como também o protocolo de comunicação Zmodem.
No ano seguinte, 1993, a Intel lança o processador Pentium, um 586 com outro nome e eu consigo manter pessoalmente 400 usuários; mas para crescer, precisei alugar, do meu padrasto, o andar de baixo. Foi a hora de trocar o PC 286 por um servidor 486 conectado a uma rede Novell e estações 386.
Nesta época existiam uns 50 provedores de acesso que concorriam comigo, por isso resolvi investir no atendimento ao cliente. Nunca fui um bom programador. O que mais vale, na minha opinião, é a idéia, o ativo mais barato que existe.
Sempre digo: se você for fazer uma coisa, exagere, senão dá errado. Se fizer igual a todo mundo, será ultrapassado logo.
Minha grande dúvida na época era como eu iria ganhar dinheiro e cobrar por um serviço que algumas empresas ofereciam de graça? A resposta veio logo à cabeça, enquanto eu dormia. Acordei e anotei rápido num bloquinho que eu deixava ao lado da cabeceira da cama. A justificativa para cobrar pelo serviço oferecido era a qualidade.
Resolvi que não teria férias, nem sequer um domingo de folga, pois iria responder e atender pessoalmente o meu cliente. Deu certo! Fui o único na época a oferecer suporte 24 horas. A propaganda dependia do boca-a-boca, mas eu sempre arrisquei o pescoço todos os dias para oferecer melhores serviços ao meu cliente.
O BBS sempre precisou trazer bons resultados para o cliente e para a empresa. Em 1993, o BBS já me pagava US$ 80 por dia, o que me garantia um salário de cerca de US$ 2 mil por mês. Também em 1993, a Microsoft lançou o Windows NT, uma versão de 32 bits que era um sistema operacional verdadeiramente auto-suficiente: não precisava do DOS.
Neste mesmo ano eu deixei a Siemens e passei a me dedicar full time a MANDIC.
Eu descia às 6 horas da manhã e só voltava para casa depois das 23 horas. Mantive a empresa caseira até 1995, quando os vizinhos começaram a reclamar das 80 linhas telefônicas instaladas num edifício residencial.
Não pensei muito, abri o jornal e vi um anúncio de escritório para alugar na Avenida Pedroso de Morais, em Pinheiros, no mesmo bairro que eu morava. E por ser na cobertura do prédio facilitava a instalação das linhas telefônicas. Nem precisei mudar os prefixos.
A Internet nascia com a possibilidade de oferecer ao usuário a abertura da maior biblioteca do mundo. E a MANDIC não podia ficar de fora. No ano de 1993, existiam 1,7 milhão de computadores conectados em todo o planeta. Em 1997, o número pulou para 20 milhões, de acordo com o guia Computer Industry Almanac.
Os já famosos sites de busca começaram a se interessar também pelo ambiente gráfico. Exemplos como o Yahoo!, AltaVista, WebCrawler, Excite e Lycos começaram a pesquisar, junto com as Universidades, melhores interfaces para suas páginas, ao mesmo tempo que começavam a agregar conteúdo através de parcerias com empresas de mídia.
No ano seguinte, em 1994, começava o uso comercial da rede, com sites dedicados à venda de livros, CDs e até mesmo flores. Neste mesmo ano contratei o jovem programador Ricardo Ikeda, recém saído da Escola Politécnica da USP, para transformar todo o sistema da BBS em Internet.
Queria que meu usuário pudesse trocar de plataforma automaticamente e com isso saí novamente na frente da concorrência. Fui o primeiro provedor de acesso a oferecer Internet para 10 mil usuários.
Apostei todas as minhas fichas em algo que não existia e funcionou. Logo crescemos para 20 mil usuários e nesta hora vivi o momento mais crucial da minha vida. Precisava injetar dinheiro pesado para crescer, tinha os US$ 100 mil necessários em caixa, mas não queria abrir mão da minha poupança pessoal.
Resolvi procurar um investidor. Em setembro de 1996 fechei um acordo financeiro com o grupo Garantia Participações - GP.
A trajetória financeira da MANDIC foi a seguinte: no primeiro ano como MANDIC S/A, em 1992, faturei US$ 3 mil, no segundo US$ 30 mil; no terceiro, US$ 800 mil; no quarto ano, US$ 2 milhões; no quinto, US$ 5 milhões e em 1997, US$ 10 milhões.
Mas, nunca desperdicei ou mesmo gastei o dinheiro do investidor. Lembro que ao invés de comprar máquinas, optei pelo leasing. Se alguma coisa desse errado, o leasing garantia o dinheiro em caixa, bastava devolver os equipamentos.
Quando o UOL ingressou fortemente no mercado, em maio de 1997, distribuindo kits de acesso para seus 300 mil assinantes, resolvi fazer igual, mas oferecer um atendimento melhor. Comprei o mesmo espaço publicitário que o UOL utilizou na Folha de S. Paulo e publiquei no próprio jornal o anúncio dos kits de acesso da MANDIC. Foi um tremendo sucesso.
A Internet em 1997 era divertida, mas a dura concorrência travada com o UOL e o Zaz (futuro Terra), recém capitalizado pela compra do provedor de acesso Nutec, mais uma vez me fez dar uma acelerada, como gosto de fazer quando dirijo.
1997 é considerado o ano no qual os capitais de risco descobrem um novo filão e com ele, dezenas de empresas abrem seu capital na Nasdaq - Sigla para National Association of Security Dealers Automated Quotation. Nesta bolsa de valores independente são negociadas ações de empresas de tecnologia e de Internet.
Percebi, acompanhando o movimento do mercado mundial e principalmente o norte-americano que só os grandes sobreviveriam e nesta hora, terminei meu casamento com o GP e fui para um novo patamar de valores, onde tive que vender o controle acionário para O Site.
A história recente todos conhecem: vieram os provedores de acesso grátis, onde ajudei a criar o iG. A bolha cresceu, tínhamos em 2000 uma dezena de portais e todos brigando pela concorrência em massa. UOL, Terra, iG, Globo.com, BOL, AOL, enfim, todo mundo querendo os milhões de pageviews.
Nesta hora, volto a fazer anotações no meu bloquinho: mandic:mail, o melhor serviço de e-mail da Internet. Bom, pago e para pessoas exigentes, que precisam do e-mail para trabalhar.
Terei um serviço que sempre irá buscar clientes que precisem do e-mail para trabalhar, que sejam formadores de opinião e que queiram pagar para ter um serviço diferenciado.
Vou começar apenas com e-mail, porque simplesmente é o serviço responsável por 80% do tráfego na Internet. Em 1996, já existiam 56 milhões de usuários em todo o mundo. No mesmo ano, 95 bilhões de mensagens eletrônicas foram enviadas nos Estados Unidos, em comparação às 83 bilhões de cartas convencionais postadas nos correios, segundo dados da Computer Industry Almanac, divulgados em 1998.
Para 2005, segundo os analistas de mercado, teremos em torno 766 milhões de usuários conectados à rede em todo o planeta e a volta dos pequenos empreendedores, em nichos especializados, como o que eu mais uma vez estou criando antes da concorrência.
Nos próximos anos, a rede sofrerá uma adaptação, sendo mais eficiente no tráfego de informações remotas como teletransporte de imagens e transferência de arquivos por meio de chips implantados em humanos - assistiremos à realização de eventos antes restritos ao mundo da ficção.
Um dos trunfos da MANDIC será manter a carteira seleta de 50 mil usuários de e-mail, meta para ser atingida em 12 meses. Quero gerenciar de perto o nosso crescimento, para sempre oferecer melhores e inovadores serviços de correio eletrônico para o cliente que acredita que ter um e-mail mandic:mail é uma grife, além de ter também a garantia de excelentes plataformas tecnológicas.
Com o desenvolvimento das novas gerações de celulares e o desenvolvimento crescente dos dispositivos portáteis (como Palm, por exemplo) será possível cada vez mais estar conectado de qualquer lugar do mundo e a qualquer hora. Investiremos pesado no acesso remoto, pois acredito que será um diferencial para nossos clientes."