sexta-feira, 29 de abril de 2011

Quanto vale uma empresa para o comprador?


Por sugestão do colega Felipe Mattos, responsável pelo atendimento da FIAP nas mídias sociais, estou postando um artigo do professor Clayton Nogueira.

Por: Clayton Nogueira*

Quanto vale uma empresa para o comprador?

Todo bem tem valor distinto aos olhos de quem vende e de quem compra. O mesmo vale para uma empresa. Meu objetivo com este artigo é apresentar, em poucas palavras, como se chega ao valor de uma companhia sob o ponto de vista do comprador, ou seja: qual o preço alguém estaria disposto a pagar pela empresa?

Para um empresário que decide vender sua empresa, fatores como emoção, status e benefícios fiscais e econômicos entram na balança na hora de calcular o valor do seu negócio.

O empreendedor normalmente valoriza o tempo e a energia investidos e todos os percalços pelos quais passou para criar e desenvolver sua empresa, principalmente em ambientes hostis ao empreendedorismo e de elevada carga tributária, como é o caso do Brasil. O custo de não estar com a família, as noites mal dormidas por conta das preocupações com a produção, com as vendas ou com as contas e impostos por pagar certamente pesam quando o vendedor quer definir quanto pedir.

Além do valor emocional agregado, o fato de ser o dono de uma empresa também traz algum poder e status. Depois de vendida, mesmo com dinheiro no bolso, o ex-dono vai perder parte desse status e tem que se cuidar para que essa mudança não provoque ansiedade e até depressão.

Os benefícios fiscais e econômicos para os proprietários de empresa no Brasil também podem ser uma vantagem extra, comparativamente com aqueles que vivem de renda ou são assalariados, da qual é preciso abrir mão ao desfazer-se do negócio.

Porém esses fatores – emoção, status e benefícios monetários – não têm valor para o comprador.

O caixa é rei

A valia de uma empresa é determinada pelo valor presente de seu fluxo de caixa futuro. Valor presente – ou valor atual – é o valor dos fluxos de caixa futuros gerados pela empresa descontados a uma determinada taxa. Esse valor seria assim determinado:

Valor da Empresa = ∑ (Fluxo de Caixa Livre) do período “n” dividido por (1+taxa de desconto) elevado a “n”, onde “n” igual a período de ocorrência do Fluxo de Caixa.

O fluxo de caixa de uma empresa em determinado período é dado pela seguinte equação: Lucro Operacional Líquido depois do Imposto de Renda (+) Despesas que não representam saídas de caixa (depreciação, amortizações etc) (=) Fluxo de Caixa Operacional (-) Investimentos em Capital Fixo (máquinas, Instalações, etc) (+/-) Variações investimento em capital de giro (=) Fluxo de Caixa Livre.

O lucro não é sinônimo de caixa, mas com certeza é o principal componente ou o que mais contribui para a geração de caixa. Assim, para turbinar seu lucro você vai precisar de crescimento de vendas forte, margens (preço (-) custo variável) adequadas, estrutura de despesas fixas enxuta e pagar o mínimo necessário em impostos.

Aqui sim, bons produtos, marca reconhecida, boa carteira de clientes e produtividade vão ajudar a vender mais e ter boa margem.

Sob o ponto de vista de investimentos em capital fixo, boas instalações atuais significam menos investimentos e isso é economia de caixa que beneficia o fluxo de caixa livre.

Sob o ponto de vista de capital de giro, quanto menor o investimento em estoques, contas a receber (menor prazo de recebimento) e maior prazo para pagamento dos passivos, menos desembolso de caixa e, portanto, mais fluxo de caixa livre.

A taxa de desconto abate o fluxo de caixa futuro a um valor presente, pois o dinheiro tem valor no tempo. Essa taxa de desconto é determinada por dois componentes: um componente de risco associado a não ocorrência dos fluxos de caixa futuros, e um componente que se refere ao custo de oportunidade, isto é, o custo da alternativa sacrificada para que o recurso fosse investido nessa alternativa, no caso nessa empresa e não em outra. Normalmente a taxa é determinada por uma taxa de juros básica da economia mais uma taxa pelo risco.

Mas afinal quanto vale a empresa para o comprador?

Vale o valor presente dos fluxos de caixa futuros gerados pela empresa atualmente, somado ao valor presente dos fluxos de caixa gerados pelas sinergias sob a nova gestão. Existem sinergias de receita, como, por exemplo, produtos complementares ou uma boa rede de distribuição que irá turbinar as vendas dos produtos na nova empresa. Do lado dos custos, as sinergias podem ser de escala, fiscais, de integração vertical etc.

Se sua empresa gera um fluxo de caixa livre anual de R$ 1.000.000,00 constante e a taxa de desconto do seu comprador para esse projeto for de 12,5% ao ano, sua empresa vale R$ 8.000.000,00, sem sinergias, sem caixa e sem dívidas. Na mão do comprador, sua ex- empresa, por conta das sinergias, vai gerar um fluxo de caixa livre de R$1.500.000,00 e aí passa a valer, R$12.000.000,00 (aos mesmos 12,5%) sem caixa e sem dívidas.

Quanto maior a taxa de crescimento de suas vendas e, em consequência, do lucro e do fluxo de caixa, maior será o valor presente. Quanto menor o risco associado a esses fluxos de caixa, menor a taxa de desconto e, portanto, maior o valor presente. Uma das grandes discussões entre vendedores e compradores é a taxa de desconto, pois cada um tem um custo de oportunidade e uma aversão/propensão ao risco.

Agora, caro empreendedor, a negociação é com você e o valor final deverá estar entre o valor presente sem e com sinergias e vai depender da taxa de desconto e, por certo, do quão estratégico é o seu negócio para os objetivos de seu comprador e do seu poder de negociação que, sabemos, dispensa comentários. Boa sorte.

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*Clayton Nogueira é diretor financeiro para a America Latina da Valspar Corporation. Graduado em Administração de Empresas com mestrado em Controladoria pela USP, MBA em Marketing pela ESPM-SP, conselheiro fiscal e de administração certificado pelo IBGC. É professor de Planejamento e Controle na FIAP e da FIA-USP, conselheiro fiscal da Abrafati e diretor vogal no IBEF-SP.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Exemplo de capitalismo moderno


Acabei de ler uma notícia no G1 e não me aguentei, tive que começar a escrever este post. Vejam o título da matéria:

"Copom surpreende e sobe juros para 12% ao ano no 3º aumento seguido"

Com esse aumento da taxa de juros, o Brasil está disparado na liderança dos países com juros altos. Essa diferença faz com que o país atraia capital especulativo, que só entra no país visando o enorme spread entre as nossas taxas e as taxas de outros países. Os investidores que colocam seu dinheiro no Brasil pegam emprestado lá fora e investem aqui a juros muito maiores. No final das contas, cobrem o que foi devido e lucram com a diferença. O dinheiro entra e sai e não é investido em nada que possa trazer retorno ao país no longo prazo.

E quanto a nossa carga tributária, que deixa o país comendo poeira quando comparado a países com políticas mais modernas?

Não vou nem entrar no mérito da discussão, mas gostaria muito de fazer uma contraposição usando o exemplo de Dubai, que com políticas modernas vem colocando a Emirates em posição privilegiada frente a outras empresas mundiais do mesmo ramo de atuação.

Emirates, exemplo de capitalismo moderno em Dubai

Quem aí nunca ouviu falar da Emirates? A Emirates é uma empresa aérea, com sede em Dubai, que atua no mercado de aviação civil. Ela vem despertando a fúria de várias outras companhias, que a acusam de competição desleal.

Todos que estão acostumados a voar, principalmente no Brasil, já devem ter se acostumado com o tipo de serviço de baixo custo. Em viagens curtas não são servidos lanches, quando servidos, geralmente, são péssimos, a classe executiva não tem nada demais e todo o material usado é descartável, ou seja, o serviço praticamente não existe. Na Emirates acontece o oposto. Os serviços são muito melhores. em aviões grandes como o A380, os passageiros têm chuveiros, cabine individual e até espaço de confraternização. Nas classes executivas a empresa oferece até limusine para ir e voltar do aeroporto, inclusive no Brasil.

Mas aí você deve estar pensando, como a empresa consegue ser competitiva oferecendo tudo isso?

Acreditem se quiser, a Emirates oferece um serviço muito melhor, mas o preço é semelhante ou menor do que o da concorrência. E eles conseguem fazer isso porque o país permite que a empresa seja competitiva, lançando mão de formas modernas de capitalismo.

A Emirates consegue ter custos com salários 48% mais baixos do que a média européia, tudo porque em Dubai inexistem sindicatos e impostos de rendas e serviços. As taxas aeroportuárias são, em média, 25% menores que na Europa. O governo investe maciçamente na eficiência de seu aeroporto e cobra uma taxa baixa pelo seu uso. O lucro de Dubai não vem das taxas ou dos impostos, mas sim dos milhões em negócios e turistas que visitam o emirado.

Fantástico, não?

Sei que tem coisas que não se aplicam facilmente em nosso país, mas precisamos pensar seriamente em políticas diferentes, dando mais condições das nossas empresas competirem com os estrangeiros e afrouxando um pouco a carga tributária do país. O Brasil tem tanto tributo, que eu acho que as empresas começam a quebrar só de pensar no que vão ter que pegar pela frente.

Desejo muito viver em um país sólido, moderno e com políticas eficientes. Eu amo o Brasil e acho que não podemos reclamar dos últimos anos, principalmente pelo crescimento do país, mas ainda temos muito que melhorar.

Espero que exemplos como os de Dubai, sirvam para começarmos a abrir os olhos para o capitalismo moderno.

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Obs: para as informações sobre a Emirates e os custos em Dubai, usei como referência a revista Exame, Ed. 989, de 06/04/2011. Matéria da capa: Procuram-se 8 milhões de profissionais.





terça-feira, 12 de abril de 2011

Carteira Victinhu Investimentos - Mar/2011


Depois de muito protelar, consegui parar e escrever este post. Pelo terceiro mês consecutivo - será que tá virando moda? - consegui bater o Ibovespa. E dessa vez não foi a Petrobras que motivou a subida, apesar de eu ter feito um ótimo lançamento de opções coberto no mês anterior com ela.

Vejamos os resultados.

Rentabilidade mensal: o Ibovespa fechou março com 1,8% de rendimento, enquanto a carteira Victinhu ficou com 2,44%. Comecei o mês vendido em PETRC30, que foi lançada no final de fevereiro, quando a ação bateu em R$29,00. Como a ação começou a perder força na escalada, prefiri correr o risco de deixar o vencimento passar. A estrela do mês foi o fundo Rio Bravo (FFCI11), que teve uma valorização de incríveis 9,55%, sem contar o rendimento com os alugueis.

Alocação no início de março: não fiz nenhuma alteração de fevereiro para março, então minha alocação no início do mês ficou exatamente a mesma do fechamento anterior.















Alocação no final de março: no final do mês terminei com a posição em PETR4 mais diluída e fiz um pequeno aporte com dinheiro da namorada na poupança, só para chegar com um mínimo de 10% neste tipo de investimento. O lançamento no mês anterior venceu e eu não fui exercido, pois PETR4 estava abaixo de R$30,00. Para os meses seguintes, pretendo reforçar a minha posição no título NTN-B com vencimento em 15/05/2015, que tem me agradado muito. A poupança, infelizmente, vem perdendo pra inflação, e me dá uma agonia profunda ter que ver o dinheiro lá sendo corroído, mas me preocupa o fato de não ter liquidez no caso de alguma emergência. Então manterei sempre alguma posição nessa modalidade de renda fixa.















RENTABILIDADE MENSAL
















1. Ações: PETR4 teve uma desvalorização de 0,18%, mas felizmente não comprometeu o mês, mesmo tendo grande peso sobre a carteira. Continuarei mantendo a estratégia de fazer lançamentos cobertos para rentabilizar a carteira e comprar mais ações.

2. Fundos imobiliários: FFCI11 está me fazendo MUITO feliz. A cota teve uma forte subida no mês e valorizou-se 9,55%. Não estou contando nesta valorização o rendimento dos alugueis, se não com certeza a rentabilidade estaria facilmente nos 10%. Manterei a minha posição neste fundo e ficarei de olho para saber se vale a pena continuar investindo nele. Por hora estou deixando um stop para saída. O meu preço médio em FFCI11 é de R$1,50, então deixarei o stop em algo em torno de R$1,60, só para não sair perdendo no caso de uma queda forte. Não acredito que abril será de grandes altas como foi março.

3. Renda fixa: dei um pequeno reforço na poupança com o dinheiro que a minha namorada deixou comigo para investir. Pretendo manter a poupança em torno dos 10% na carteira. Para os meses subsequentes, pretendo reforçar a minha posição no título NTNB150515, que também está me fazendo muito feliz.


ALOCAÇÃO DE ATIVOS

















Sem muitos comentários, a alocação terminou quase da mesma forma que o mês passado. PETR4 vem prometendo alta há muito tempo, mas ela está patinando e andando de lado faz muito tempo. Pelo terceiro mês consecutivo tive sucesso quando comparado com o Ibovespa, então não vou fazer nenhuma alteração para os próximos meses. Manterei a estratégia de lançar opções e vou reforçar minha posição em FII e renda fixa.

Um abraço para todos

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Nicolas Hayek, ex-presidente do Grupo Swatch


Minha namorada é apaixonada pelos relógios da Swatch e eu nunca tinha tido a curiosidade, até ontem, de pesquisar sobre o homem que fez a empresa ser o que ela é hoje. Nicolas Hayek, falecido em junho/2010, é um empresário que tem muito a ensinar com seus exemplos.


Um pouquinho de sua história


"Considerado o salvador da indústria relojoeira suíça nos anos de 1980, Hayek tornou-se um símbolo de empresário ousado e rico em ideias.

Ele reorganizou as empresas Asuag e SSIH, formando um único grupo, assumido por ele e outros investidores em 1985. No ano seguinte, tornou-se chefe-executivo e presidente da Swatch. Passou a direção geral ao seu filho Nick, em 2003, mas permaneceu na presidência do conselho de administração.

"Com a inesperada morte de Nicolas G. Hayek, a Suíça e a economia suíça perdem uma de suas personalidades", disse a presidente suíça e ministra da Economia, Doris Leuthard, em comunicado.

"Através de seu empenho e sua ação corajosa, Nicolas Hayek impulsionou fortemente a empresa e a economia suíça. Devemos muito ao senhor Hayek", acrescentou Leuthard.

Ator incontornável na cena midiática e econômica, este imigrante libanês, que se tornou um milionário, nunca mostrou uma vontade real de deixar o negócio. Parecia improvável que as decisões fossem tomadas sem o seu consentimento.

Na passagem das décadas de 1970 para 80, o setor relojoeiro suíço, que havia se destacado na fabricação de complicados modelos mecânicos, tinha dificuldades para enfrentar o advento dos relógios de quartzo, confiáveis e muito mais baratos.

Hayek não hesitou em adotar a nova tecnologia nos coloridos relógios de plástico Swatch, que foram lançados em 1983 e rapidamente se popularizaram no mundo todo.

Seu sucesso comandou a recuperação do setor relojoeiro suíço e ajudou Hayek a transformar sua empresa no maior fabricante mundial de relógios. Ele deixa uma empresa com boa saúde.

Em maio passado, o empresário disse que a Swatch teria um ano recorde, com faturamento estimado em mais de 6 bilhões de francos suíços (5,5 bilhões de dólares).

Artista empreendedor

"A extraordinária visão de Nicolas G. Hayek lhe permitiu perceber e assegurar a sustentabilidade de um empreendimento relojoeiro forte, com alto valor agregado suíço. Ele é justamente reconhecido como um empreendedor líder neste país", disse a empresa.

O ex-líder do Grupo Swatch costumava se definir como uma espécie de artista-empreendedor. Ele acreditava que um empresário tinha que manter a fantasia da infância. Parecia saborear o fato de estar entre os grandes deste mundo, ao mesmo tempo em que admirava o trabalho de um relojoeiro.

Nascido em Beirute em 1928, Hayek emigrou para França em 1940 e para a Suíça em 1949, onde mais tarde obteve a cidadania. Dirigiu empresas desde os anos 50 e, em 1985, assumiu o controle da Sociedade Suíça de Microeletrônica e Relojoaria, predecessora do Grupo Swatch, que hoje inclui muitas marcas, tais como Swatch, Omega, Tissot, Longines e Breguet.

Vinculado à cidade de Biel

Para muitos, o nome de Biel permanecerá indissoluvelmente ligado ao dono do Grupo Swatch. A criação de diferentes marcas do grupo na cidade bilíngue do cantão de Berna levou à criação de milhares de empregos, além de que se tornou a capital mundial da relojoaria.

Durante a crise econômica atual, este bem-humorado comandante da indústria, exortou os empresários a superar os obstáculos e seguir em frente.

Enquanto gostava de elogiar os empregadores, trabalhadores, designers, não teve papas na língua quando denunciou o mundo das finanças. Ele criticou "os banqueiros idiotas e desonestos", que usaram o dinheiro para especular ou para pagar bônus exorbitantes.

Nos anos 90, Nicolas Hayek não hesitou em se manifestar contra a política do Banco Nacional Suíço (SNB), considerada hostil às exportações. Recentemente, comprometera-se com o populista Christoph Blocher e o social democrata Christian Levrat para alterar o tamanho do UBS e Credit Suisse.

Intuição

Famoso por usar vários relógios simultaneamente, Hayek foi visionário também em outras áreas. Intuitivo, dedicou-se ao desenvolvimento de veículos ecológicos movidos por células de combustível.

Mas já muito antes vinha sonhando com uma tecnologia de carro limpo. Nos anos 90, lançou a ideia de Swatchmobile. O projeto do carro ecológico não se materializou. No entanto, Hayek criou modelo Smart da DaimlerChrysler.

Em cada crise, Nicolas Hayek era um dos principais especialistas consultados, não só pela imprensa. Quando o projeto de exposição nacional, convertido de Expo 01 para a Expo 02, afundava, foi ele quem elaborou o relatório de viabilidade no final dos anos 90.

Durante toda a sua vida, Nicolas Hayek procurou colocar o ser humano acima do dinheiro. Em uma entrevista de um ano atrás à revista francesa L'Express, ele disse: "Nada é impossível, exceto evitar a morte ... e os impostos. ""