Por sugestão do colega Felipe Mattos, responsável pelo atendimento da FIAP nas mídias sociais, estou postando um artigo do professor Clayton Nogueira.
Por: Clayton Nogueira*
Quanto vale uma empresa para o comprador?
Todo bem tem valor distinto aos olhos de quem vende e de quem compra. O mesmo vale para uma empresa. Meu objetivo com este artigo é apresentar, em poucas palavras, como se chega ao valor de uma companhia sob o ponto de vista do comprador, ou seja: qual o preço alguém estaria disposto a pagar pela empresa?
Para um empresário que decide vender sua empresa, fatores como emoção, status e benefícios fiscais e econômicos entram na balança na hora de calcular o valor do seu negócio.
O empreendedor normalmente valoriza o tempo e a energia investidos e todos os percalços pelos quais passou para criar e desenvolver sua empresa, principalmente em ambientes hostis ao empreendedorismo e de elevada carga tributária, como é o caso do Brasil. O custo de não estar com a família, as noites mal dormidas por conta das preocupações com a produção, com as vendas ou com as contas e impostos por pagar certamente pesam quando o vendedor quer definir quanto pedir.
Além do valor emocional agregado, o fato de ser o dono de uma empresa também traz algum poder e status. Depois de vendida, mesmo com dinheiro no bolso, o ex-dono vai perder parte desse status e tem que se cuidar para que essa mudança não provoque ansiedade e até depressão.
Os benefícios fiscais e econômicos para os proprietários de empresa no Brasil também podem ser uma vantagem extra, comparativamente com aqueles que vivem de renda ou são assalariados, da qual é preciso abrir mão ao desfazer-se do negócio.
Porém esses fatores – emoção, status e benefícios monetários – não têm valor para o comprador.
O caixa é rei
A valia de uma empresa é determinada pelo valor presente de seu fluxo de caixa futuro. Valor presente – ou valor atual – é o valor dos fluxos de caixa futuros gerados pela empresa descontados a uma determinada taxa. Esse valor seria assim determinado:
Valor da Empresa = ∑ (Fluxo de Caixa Livre) do período “n” dividido por (1+taxa de desconto) elevado a “n”, onde “n” igual a período de ocorrência do Fluxo de Caixa.
O fluxo de caixa de uma empresa em determinado período é dado pela seguinte equação: Lucro Operacional Líquido depois do Imposto de Renda (+) Despesas que não representam saídas de caixa (depreciação, amortizações etc) (=) Fluxo de Caixa Operacional (-) Investimentos em Capital Fixo (máquinas, Instalações, etc) (+/-) Variações investimento em capital de giro (=) Fluxo de Caixa Livre.
O lucro não é sinônimo de caixa, mas com certeza é o principal componente ou o que mais contribui para a geração de caixa. Assim, para turbinar seu lucro você vai precisar de crescimento de vendas forte, margens (preço (-) custo variável) adequadas, estrutura de despesas fixas enxuta e pagar o mínimo necessário em impostos.
Aqui sim, bons produtos, marca reconhecida, boa carteira de clientes e produtividade vão ajudar a vender mais e ter boa margem.
Sob o ponto de vista de investimentos em capital fixo, boas instalações atuais significam menos investimentos e isso é economia de caixa que beneficia o fluxo de caixa livre.
Sob o ponto de vista de capital de giro, quanto menor o investimento em estoques, contas a receber (menor prazo de recebimento) e maior prazo para pagamento dos passivos, menos desembolso de caixa e, portanto, mais fluxo de caixa livre.
A taxa de desconto abate o fluxo de caixa futuro a um valor presente, pois o dinheiro tem valor no tempo. Essa taxa de desconto é determinada por dois componentes: um componente de risco associado a não ocorrência dos fluxos de caixa futuros, e um componente que se refere ao custo de oportunidade, isto é, o custo da alternativa sacrificada para que o recurso fosse investido nessa alternativa, no caso nessa empresa e não em outra. Normalmente a taxa é determinada por uma taxa de juros básica da economia mais uma taxa pelo risco.
Mas afinal quanto vale a empresa para o comprador?
Vale o valor presente dos fluxos de caixa futuros gerados pela empresa atualmente, somado ao valor presente dos fluxos de caixa gerados pelas sinergias sob a nova gestão. Existem sinergias de receita, como, por exemplo, produtos complementares ou uma boa rede de distribuição que irá turbinar as vendas dos produtos na nova empresa. Do lado dos custos, as sinergias podem ser de escala, fiscais, de integração vertical etc.
Se sua empresa gera um fluxo de caixa livre anual de R$ 1.000.000,00 constante e a taxa de desconto do seu comprador para esse projeto for de 12,5% ao ano, sua empresa vale R$ 8.000.000,00, sem sinergias, sem caixa e sem dívidas. Na mão do comprador, sua ex- empresa, por conta das sinergias, vai gerar um fluxo de caixa livre de R$1.500.000,00 e aí passa a valer, R$12.000.000,00 (aos mesmos 12,5%) sem caixa e sem dívidas.
Quanto maior a taxa de crescimento de suas vendas e, em consequência, do lucro e do fluxo de caixa, maior será o valor presente. Quanto menor o risco associado a esses fluxos de caixa, menor a taxa de desconto e, portanto, maior o valor presente. Uma das grandes discussões entre vendedores e compradores é a taxa de desconto, pois cada um tem um custo de oportunidade e uma aversão/propensão ao risco.
Agora, caro empreendedor, a negociação é com você e o valor final deverá estar entre o valor presente sem e com sinergias e vai depender da taxa de desconto e, por certo, do quão estratégico é o seu negócio para os objetivos de seu comprador e do seu poder de negociação que, sabemos, dispensa comentários. Boa sorte.
_____________________________
*Clayton Nogueira é diretor financeiro para a America Latina da Valspar Corporation. Graduado em Administração de Empresas com mestrado em Controladoria pela USP, MBA em Marketing pela ESPM-SP, conselheiro fiscal e de administração certificado pelo IBGC. É professor de Planejamento e Controle na FIAP e da FIA-USP, conselheiro fiscal da Abrafati e diretor vogal no IBEF-SP.
Por: Clayton Nogueira*
Quanto vale uma empresa para o comprador?
Todo bem tem valor distinto aos olhos de quem vende e de quem compra. O mesmo vale para uma empresa. Meu objetivo com este artigo é apresentar, em poucas palavras, como se chega ao valor de uma companhia sob o ponto de vista do comprador, ou seja: qual o preço alguém estaria disposto a pagar pela empresa?
Para um empresário que decide vender sua empresa, fatores como emoção, status e benefícios fiscais e econômicos entram na balança na hora de calcular o valor do seu negócio.
O empreendedor normalmente valoriza o tempo e a energia investidos e todos os percalços pelos quais passou para criar e desenvolver sua empresa, principalmente em ambientes hostis ao empreendedorismo e de elevada carga tributária, como é o caso do Brasil. O custo de não estar com a família, as noites mal dormidas por conta das preocupações com a produção, com as vendas ou com as contas e impostos por pagar certamente pesam quando o vendedor quer definir quanto pedir.
Além do valor emocional agregado, o fato de ser o dono de uma empresa também traz algum poder e status. Depois de vendida, mesmo com dinheiro no bolso, o ex-dono vai perder parte desse status e tem que se cuidar para que essa mudança não provoque ansiedade e até depressão.
Os benefícios fiscais e econômicos para os proprietários de empresa no Brasil também podem ser uma vantagem extra, comparativamente com aqueles que vivem de renda ou são assalariados, da qual é preciso abrir mão ao desfazer-se do negócio.
Porém esses fatores – emoção, status e benefícios monetários – não têm valor para o comprador.
O caixa é rei
A valia de uma empresa é determinada pelo valor presente de seu fluxo de caixa futuro. Valor presente – ou valor atual – é o valor dos fluxos de caixa futuros gerados pela empresa descontados a uma determinada taxa. Esse valor seria assim determinado:
Valor da Empresa = ∑ (Fluxo de Caixa Livre) do período “n” dividido por (1+taxa de desconto) elevado a “n”, onde “n” igual a período de ocorrência do Fluxo de Caixa.
O fluxo de caixa de uma empresa em determinado período é dado pela seguinte equação: Lucro Operacional Líquido depois do Imposto de Renda (+) Despesas que não representam saídas de caixa (depreciação, amortizações etc) (=) Fluxo de Caixa Operacional (-) Investimentos em Capital Fixo (máquinas, Instalações, etc) (+/-) Variações investimento em capital de giro (=) Fluxo de Caixa Livre.
O lucro não é sinônimo de caixa, mas com certeza é o principal componente ou o que mais contribui para a geração de caixa. Assim, para turbinar seu lucro você vai precisar de crescimento de vendas forte, margens (preço (-) custo variável) adequadas, estrutura de despesas fixas enxuta e pagar o mínimo necessário em impostos.
Aqui sim, bons produtos, marca reconhecida, boa carteira de clientes e produtividade vão ajudar a vender mais e ter boa margem.
Sob o ponto de vista de investimentos em capital fixo, boas instalações atuais significam menos investimentos e isso é economia de caixa que beneficia o fluxo de caixa livre.
Sob o ponto de vista de capital de giro, quanto menor o investimento em estoques, contas a receber (menor prazo de recebimento) e maior prazo para pagamento dos passivos, menos desembolso de caixa e, portanto, mais fluxo de caixa livre.
A taxa de desconto abate o fluxo de caixa futuro a um valor presente, pois o dinheiro tem valor no tempo. Essa taxa de desconto é determinada por dois componentes: um componente de risco associado a não ocorrência dos fluxos de caixa futuros, e um componente que se refere ao custo de oportunidade, isto é, o custo da alternativa sacrificada para que o recurso fosse investido nessa alternativa, no caso nessa empresa e não em outra. Normalmente a taxa é determinada por uma taxa de juros básica da economia mais uma taxa pelo risco.
Mas afinal quanto vale a empresa para o comprador?
Vale o valor presente dos fluxos de caixa futuros gerados pela empresa atualmente, somado ao valor presente dos fluxos de caixa gerados pelas sinergias sob a nova gestão. Existem sinergias de receita, como, por exemplo, produtos complementares ou uma boa rede de distribuição que irá turbinar as vendas dos produtos na nova empresa. Do lado dos custos, as sinergias podem ser de escala, fiscais, de integração vertical etc.
Se sua empresa gera um fluxo de caixa livre anual de R$ 1.000.000,00 constante e a taxa de desconto do seu comprador para esse projeto for de 12,5% ao ano, sua empresa vale R$ 8.000.000,00, sem sinergias, sem caixa e sem dívidas. Na mão do comprador, sua ex- empresa, por conta das sinergias, vai gerar um fluxo de caixa livre de R$1.500.000,00 e aí passa a valer, R$12.000.000,00 (aos mesmos 12,5%) sem caixa e sem dívidas.
Quanto maior a taxa de crescimento de suas vendas e, em consequência, do lucro e do fluxo de caixa, maior será o valor presente. Quanto menor o risco associado a esses fluxos de caixa, menor a taxa de desconto e, portanto, maior o valor presente. Uma das grandes discussões entre vendedores e compradores é a taxa de desconto, pois cada um tem um custo de oportunidade e uma aversão/propensão ao risco.
Agora, caro empreendedor, a negociação é com você e o valor final deverá estar entre o valor presente sem e com sinergias e vai depender da taxa de desconto e, por certo, do quão estratégico é o seu negócio para os objetivos de seu comprador e do seu poder de negociação que, sabemos, dispensa comentários. Boa sorte.
_____________________________
*Clayton Nogueira é diretor financeiro para a America Latina da Valspar Corporation. Graduado em Administração de Empresas com mestrado em Controladoria pela USP, MBA em Marketing pela ESPM-SP, conselheiro fiscal e de administração certificado pelo IBGC. É professor de Planejamento e Controle na FIAP e da FIA-USP, conselheiro fiscal da Abrafati e diretor vogal no IBEF-SP.