Essa matéria me deixou de boca aberta.
Por: Valter Outeiro da Silveira
InfoMoney
SÃO PAULO - Bernard Madoff entrou para a história como ninguém deseja, ao ser o mentor do esquema Ponzi que resultou em um prejuízo total de US$ 50 bilhões, segunda maior fraude da história dos EUA, atrás apenas do escândalo da Enron em 2001, com perdas de US$ 63,4 bilhões.
Imagine se existisse uma fraude 50 vezes superior à de Madoff, com cerca de US$ 2,5 trilhões em perdas. Além do montante expressivo, idealize uma periodicidade mensal para tal prejuízo. Do impossível para a realidade subliminar, esse é o provável montante que os traders e bancos roubam da renda real do mundo através do petróleo.
Em artigo publicado no website Seeking Alpha, Philip Davis desnuda a possibilidade da maior fraude existente na história, ao revelar como aproximadamente 99% dos negócios nos mercados futuros de petróleo não passam de meras especulações, em um esquema envolvendo bancos, petrolíferas e até a própria imprensa.
Fantasma de mão dupla
"US$ 2,5 trilhões é menos do que o preço excedente que a população é manipulada todo mês para pagar por um barril de petróleo", afirma Davis, ao ressaltar que tais roubos ocorrem na ICE (Intercontinental Exchange).
Criada em 2001, a ICE possui como fundadoras as petrolíferas BP (British Petroleum), Royal Dutch Shell e Total, além dos bancos Morgan Stanley, Goldman Sachs, Deutsche Bank e Société Générale. A bolsa é sediada em Altanta, nos EUA, mas a regulação norte-americana passa longe das negociações.
Tamanha falta de regulação gera as chamadas dark pools of liquidity, ATS (Alternative Trading Systems) usados por traders que procuram movimentar grandes quantias sem revelar as operações no mercado aberto. Como decorrência, a especulação toma forma, e explica como o barril de petróleo saltou de US$ 40,00 para US$ 80,00 somente este ano, em meio à fraca demanda física pela commodity.
Á procura da verdade, Davis mostra que investigação do Congresso dos EUA datada de 2003 descobriu como a ICE é usada para facilitar negociações "round trip" (viagens de ida e de volta), nas quais uma firma "A" vende energia para uma empresa "B", que vende novamente o mesmo montante de volta para a firma "A": o resultado real é nulo, mas o sinal ascendente para os preços do petróleo não.
Preços disparam e ignoram demanda real
Na época em que a DMS Energy foi investigada pelo governo norte-americano, a empresa de energia assumiu que nada menos de 80% das negociações em 2001 eram fantasmas. Em movimento semelhante, a Duke Energy revelou que negociou US$ 1,1 bilhão através das round trips, sendo dois terços comercializados na ICE.
"Você pode enxergar o dano causado pelo Goldman Sachs e por sua gangue de ladrões quando olhar a diferença de preços antes da criação da ICE e depois da criação da ICE", afirma Davis, ao ressaltar que, em apenas cinco anos após a criação (de 2001 a 2006), os preços das commodities triplicou - contraparte impossível na demanda.
Para Chris Cook, ex-diretor da International Petroleum Exchange, os laços entre bancos e petrolíferas são bem mais antigos do que se pensa. "Parece-me claro que o Goldman Sachs e a BP vêm trabalhando em cooperação - ao menos em um nível estratégico - por pelo menos 15 anos", diz Cook.
A ponte mais do que estreita entre bancos e petrolíferas lembra a tese de Vladimir Lenin no texto "Imperialismo, fase superior do capitalismo", no qual explicita a junção entre capital industrial e capital bancário, resultando apenas em um tipo de capital: o financeiro.
Petróleo: causa da recessão?
Antes da existência da ICE, as famílias norte-americanas gastavam, em média, 7% de sua renda em alimentos e combustíveis. No último ano, a proporção saltou para 20%. "Isso é 13% da renda de todo norte-americano, o que dá mais de US$ 1 trilhão por ano, roubados através da manipulação do mercado", completa Davis, citando que, em uma escala global, US$ 4 trilhões são roubados por ano - 80 vezes o tamanho da fraude de Madoff.
Nesse sentido, Jeff Rubin, economista-chefe do CIBC (Canadian Imperial Bank of Commerce), sugere que a recessão corrente foi causada pelos altos preços do petróleo, ao afirmar que as hipotecas não pagas nos EUA são apenas um sintoma da doença causada pelo óleo bruto. Talvez explique porque o Japão e algumas economias na Zona do Euro entraram em recessão antes mesmo da bolha norte-americana estourar.
Além disso, os elevados preços do petróleo foram responsáveis por quatro das últimas cinco recessões do mundo, podendo ter começado também a atual, caso confirmada a tese. "Os choques do petróleo criam recessões, ao transferirem bilhões de dólares de economias em que os consumidores gastam cada centavo que possuem para países com alta taxa de poupança. Enquanto esses petrodólares podem ser reciclados de volta para fundos soberanos de investimento, eles não são reciclados para a demanda real", completa Rubin.
Parabéns, você construiu Dubai
Embora sem provas concretas, dada à falta de regulação na ICE - reguladores seriam subornados? -, a teoria da manipulação pode ser verdadeira, em um mercado cansado de especulação. Ou seria o próprio mercado a personificação da especulação?
Entre tantas questões, sempre lembre: quanto será da minha renda que está indo para a construção de um palácio de ouro no Oriente Médio, ou para algum trader do Goldman Sachs?